No estado do Acre, localizado na Amazônia Legal brasileira, a diversidade cultural, a presença de comunidades tradicionais, o acesso limitado aos serviços de saúde — comum no Norte em comparação a outras regiões — e a falta de engajamento acadêmico e científico com as MTCI na UFAC tornaram a implementação da Liga particularmente relevante. Nesse contexto, a Liga Acadêmica de Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas foi fundada em 2023 na Universidade Federal do Acre (UFAC), por meio de um projeto de extensão pioneiro iniciado por estudantes do curso de Saúde Coletiva. A iniciativa teve como objetivo capacitar estudantes de cursos da área da saúde em abordagens integrativas e promover atividades de extensão comunitária.
Devido à escassez de conteúdos relacionados às MTCI nos currículos de graduação em saúde, o que limita a preparação profissional para atuar com essas práticas, e à resistência de alguns profissionais e gestores de saúde em incorporá-las — muitas vezes por falta de conhecimento ou preconceito persistente, conforme observado por Barros et al. (2020) — propor estratégias de cuidado integrativo e complementar foi particularmente desafiador.
Apesar do rico repositório de saberes tradicionais da região, as práticas de saúde relacionadas às MTCI continuam ocorrendo de forma fragmentada e assistemática, muitas vezes atuando à margem do sistema público de saúde.
Ao longo dos dois anos de existência da Liga, foram realizadas capacitações introdutórias teóricas e práticas nos formatos de 8 e 20 horas, com foco nas seguintes técnicas:
• Auriculoterapia (voltada a protocolos para ansiedade e depressão),
• Reflexologia (utilizada para relaxamento e alívio da dor),
• Ventosaterapia (centrada no tratamento da ansiedade, depressão e estresse), e
• Yoga (focada em exercícios de respiração consciente).
No total, 21 estudantes foram capacitados em auriculoterapia, 20 em reflexologia e ventosaterapia, e 14 em yoga.
Os atendimentos foram realizados na Clínica Escola do Centro de Ciências da Saúde e do Desporto (CCSD) da UFAC. Durante seu primeiro mês de funcionamento, a clínica operou três dias por semana, com equipes em rodízio, e atendeu um total de 142 pessoas.
Além disso, a Liga realizou atividades de extensão no Instituto de Medidas Socioeducativas do Estado do Acre (ISE) e no Centro de Atendimento ao Autista (CAA), alcançando 15 e 25 pessoas, respectivamente. Os beneficiários incluíram estudantes, trabalhadores terceirizados, adolescentes em medida protetiva, profissionais de saúde e usuários do SUS.
Para além das parcerias institucionais, as atividades da Liga Acadêmica também levaram ao estabelecimento de uma iniciativa semelhante em Cruzeiro do Sul, localizada na região do Juruá, no Acre. Atuando por meio do Campus Floresta da UFAC, essa nova Liga tem continuado a oferecer atendimentos em hospitais, unidades de pronto atendimento (UPAs) e unidades básicas de saúde (UBSs) após a fase inicial de capacitação.
Apesar dos avanços alcançados até o momento, são feitas as seguintes recomendações:
• Incluir conteúdos de MTCI nas diretrizes curriculares nacionais dos cursos de graduação em saúde para garantir uma formação profissional adequada;
• Fortalecer parcerias entre universidades, serviços de saúde e comunidades para promover a integração dessas práticas no SUS;
• Incentivar pesquisas focadas em avaliar a efetividade e a eficácia das MTCI, contribuindo assim para a produção de evidências científicas que sustentem e validem essas abordagens dentro da política pública de saúde.
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