Resumo
Este relato descreve uma experiência inovadora desenvolvida durante e após a pandemia da COVID-19, que articula Terapia Comunitária Integrativa (TCI), Justiça Restaurativa, saberes indígenas e constelação familiar em formato virtual e híbrido. Realizadas com apoio do CAPS Riacho Fundo Brasília, do professor Ubiraci Pataxó, da professora Thais Prestes Veras e do juiz Marcelo Cabrália (RS), as ações acolheram participantes de diversas regiões do Brasil, promovendo o cuidado emocional, espiritual e social. O projeto “SUS na sua casa” demonstra que é possível oferecer atenção integral, comunitária e intercultural através de plataformas digitais e redes colaborativas.
Abstract (English)
This experience report describes an innovative initiative developed during and after the COVID-19 pandemic, combining Community Integrative Therapy (TCI), Restorative Justice, Indigenous wisdom, and Family Constellations in virtual and hybrid formats. With the support of CAPS Riacho Fundo, Brasília, Professor Ubiraci Pataxó, Professora Thais Prestes Veras, and Judge Marcelo Cabral (RS), these actions welcomed participants from various regions of Brazil, offering emotional, spiritual, and social care. The “SUS at Your Home” project demonstrates that it is possible to provide comprehensive, community-based, and intercultural care through digital platforms and collaborative networks.
1. Qual problema ou situação motivou a experiência?
Com a chegada da pandemia da COVID-19, diversas populações — especialmente comunidades tradicionais, indígenas, periféricas e urbanas vulneráveis — enfrentaram crises emocionais e espirituais intensificadas pelo isolamento social e pela fragilização das redes de apoio convencionais.
Foi nesse contexto que surgiram alternativas colaborativas, interculturais e digitais de cuidado integral. A articulação entre justiça restaurativa, práticas integrativas e complementares de saúde (PICS), espiritualidade indígena e constelação familiar tornou-se um caminho de reconstrução do pertencimento, da escuta e do cuidado coletivo — elementos fundamentais para um SUS vivo e humanizado.
2. O que foi feito, como, por quem e onde?
A experiência foi composta por diferentes ações interligadas, todas fundamentadas no cuidado relacional, na cultura de paz e na escuta qualificada:
1) Rodas de Terapia Comunitária Integrativa (TCI) com CAPS Riacho Fundo, de Brasília/DF.
Inspiradas no trabalho online do professor Adalberto Barreto, no aplicativo Zoom, as equipes do CAPS/DF, iniciou a realizar as rodas virtuais de TCI, que acolheram semanalmente participantes de diversas regiões do país. O Npics Brasil atuou na divulgação ativa dos links de acesso, dentro dos ambientes virtuais da comunidade, fortalecendo a proposta do “SUS na sua casa”.
2) Formação e vivências com o Professor Ubiraci Pataxó
Em Santa Cruz Cabrália, o NPICS divulgou vivências comunitárias com o terapeuta comunitário indígena Ubiraci Pataxó, integrando espiritualidade, cuidados através de orações e toques, escuta ancestral e medicinas da floresta às práticas do SUS.
3) Círculos de Paz Online com a Profª Thais Prestes Veras
Realizados segundo o modelo da Justiça Restaurativa canadense (Július), os Círculos foram coordenados por Thais Prestes Veras com apoio do juiz Marcelo Cabral (RS), figura de grande projeção nacional. Alguns encontros, também incluíam técnicas de práticas integrativas como automassagem, TCI, dinâmicas de constelação e partilhas circulares, em modelos de roteiros híbridos.
4) Rodas Híbridas de Constelação Familiar Sistêmica
Durante os encontros online, especialmente conduzidos por Diego da Rosa Leal, a estrutura da Terapia Comunitária Integrativa era utilizada como base. Após a fase de escuta das angústias, no momento anterior à conotação positiva, eram aplicadas dinâmicas sistêmicas de constelação familiar online, com profunda escuta fenomenológica.
Foi nesse espaço que surgiram conexões transformadoras, como a de Rafael Cabral, de Belém (PA), que viria a ser consultor técnico do Npics Brasil, e Louisa Huber, professora de Salvador, referência nacional nas PICS. Outros profissionais, como a psicóloga Viviane Nascimento, também passaram a realizar constelações online em parceria, acolhendo diversas pessoas semanalmente via Zoom.
3. Que resultados ou mudanças foram observadas?
Integração de saberes e práticas: A combinação entre justiça restaurativa, TCI, espiritualidade indígena e constelação familiar ofereceu um cuidado verdadeiramente integral, respeitando corpo, alma, território e ancestralidade.
Ampliação do acesso ao cuidado emocional: Pessoas de mais de 10 estados participaram, sentindo-se acolhidas em um espaço seguro, afetivo e terapêutico.
Promoção do SUS como rede viva e sensível: A estratégia do “SUS na sua casa” mostrou que o cuidado pode chegar por meio da palavra, da roda, da espiritualidade e da escuta.
Fortalecimento de vínculos e redes profissionais: Novos parceiros, como terapeutas, psicólogos, professores e membros do judiciário, se integraram à rede do Npics Brasil.
Legitimação institucional das práticas restaurativas e integrativas: O apoio do juiz Marcelo Cabral e de instituições como o CAPS Riacho Fundo solidificou essas ações como legítimas e replicáveis em nível nacional, sendo adotadas como estratégia oficial do CEJUSC/NPICS de S.C.Cabrália.
4. O que pode ser aprendido com essa experiência?
A experiência mostra que as fronteiras entre saúde, justiça, espiritualidade e educação podem (e devem) ser transpostas com responsabilidade, ética e amorosidade. As rodas online e híbridas realizadas durante a pandemia revelam um SUS potente, criativo e profundamente humano.
O uso da tecnologia a serviço da escuta e do pertencimento provou que a roda pode chegar a qualquer lugar — desde que haja vínculo, presença e intenção.
A inclusão de práticas como a constelação familiar no campo da escuta coletiva fortalece a saúde comunitária e amplia a perspectiva do cuidado integral.
Por fim, aprendemos que um novo modelo de saúde e justiça está nascendo, e ele é feito em roda, com escuta, com saberes diversos e com compromisso coletivo.
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