Comunicação sistêmica, família e comunidade: experiências terapêuticas e educativas na promoção da saúde integral

Resumo

Este artigo apresenta uma análise das experiências familiares, comunitárias e terapêuticas vivenciadas no âmbito das práticas integrativas e comunitárias de saúde, com base em relatos transcritos de três protagonistas: Dra. Cláudia da Rosa, Sra. Alda S. da Rosa e Fabrício Costa Pataxó. A partir dessas narrativas, realiza-se uma análise teórica fundamentada na comunicação sistêmica, na terapia comunitária integrativa, na educação popular em saúde e na abordagem da saúde integral. Como resultado, propõem-se recomendações práticas e políticas para qualificar as ações de promoção da saúde e fortalecer redes comunitárias de cuidado.

Palavras-chave: Comunicação Sistêmica; Terapia Comunitária; Educação Popular em Saúde; Saúde Integral; Narrativas Familiares.

1. Introdução

A comunicação sistêmica e a valorização das experiências familiares e comunitárias vêm sendo reconhecidas como práticas essenciais no campo da promoção da saúde integral, especialmente no contexto das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) no Sistema Único de Saúde (SUS). Este artigo busca analisar, a partir de relatos vivos e afetivos, como a comunicação, a escrita terapêutica e o voluntariado se articulam na construção de redes de cuidado, pertencimento e ressignificação.

Foram selecionadas e transcritas três experiências significativas: (1) o relato da Dra. Cláudia da Rosa sobre a trajetória terapêutica de seu pai, (2) a transmissão de valores familiares realizada pela Sra. Alda, e (3) a experiência comunitária e espiritual de Fabrício Pataxó. Esses relatos constituem material empírico que dialoga com importantes referenciais teóricos no campo da saúde, da educação e das práticas sistêmicas.

2. Metodologia

Este estudo qualitativo utiliza a análise narrativa como estratégia metodológica, considerando as transcrições de três relatos familiares e comunitários, registrados no contexto de lives promovidas pelo Npics Brasil e pela Escola de Práticas Integrativas. A análise interpretativa foi orientada pelos referenciais da comunicação sistêmica, da terapia comunitária integrativa, da educação popular em saúde e da abordagem sistêmica da família.

3. Resultados e Discussão

3.1. A Escrita Terapêutica como Caminho de Ressignificação

O relato da Dra. Cláudia da Rosa narra a experiência de seu pai, Professor Nelson Silva da Rosa, que, frente a um quadro depressivo, encontrou na escrita poética um caminho de ressignificação pessoal. Este processo culminou na publicação de livros que, além de valorizar sua trajetória, constituíram um legado familiar.

Esta experiência exemplifica o papel da comunicação sistêmica na promoção da saúde, entendida como um processo que articula expressão, vínculo e transformação (Watzlawick et al., 1967). A escrita, nesse contexto, operou como uma metacomunicação terapêutica, promovendo compreensão e cura.

3.2. Transmissão de Valores e Dimensão Transgeracional

A fala da Sra. Alda destaca a transmissão de valores como humildade, esperança, perdão e gratidão, orientando não apenas seus filhos e netos, mas também a comunidade que se beneficia das práticas da Escola de Práticas Integrativas do Npics Brasil.

Esta dimensão reflete a perspectiva sistêmica da família, em que os padrões de relacionamento e os valores são transmitidos transgeracionalmente, influenciando a saúde e o bem-estar dos membros do sistema familiar (Minuchin, 1982; Hellinger, 2001).

A fala sobre a necessidade do perdão e da gratidão reforça práticas terapêuticas que, segundo Schützenberger (1998), promovem a liberação emocional e o equilíbrio relacional.

3.3. Amizade, Voluntariado e Comunidade: A Experiência de Fabrício Pataxó

O relato de Fabrício Pataxó revela a potência do voluntariado e da atuação comunitária na promoção da saúde. Sua trajetória, marcada pela atuação conjunta com o autor em ações de apoio no SUS, na igreja e na comunidade Pataxó, exemplifica a essência da Terapia Comunitária Integrativa (TCI): acolhimento, fortalecimento de vínculos e ressignificação das experiências difíceis (Barreto, 2008).

Fabrício destaca a necessidade da inclusão, superação de preconceitos e valorização da diversidade cultural, especialmente no contexto das comunidades tradicionais. Sua fala aponta para a importância da interculturalidade e da articulação entre saberes tradicionais e práticas institucionais de saúde.

4. Análise Teórica

A análise das narrativas permite estabelecer conexões com referenciais teóricos relevantes:

1. Comunicação Sistêmica: evidenciada nas práticas de escuta, expressão e metacomunicação terapêutica, onde o diálogo e a narrativa se tornam instrumentos de transformação pessoal e familiar (Watzlawick et al., 1967; Berger & Luckmann, 1966).

2. Educação Popular em Saúde: presente na valorização das experiências de vida e dos saberes familiares como elementos pedagógicos e terapêuticos, conforme defendido por Freire (1987) e Vasconcelos (2014).

3. Terapia Comunitária Integrativa: demonstrada na prática de acolhimento e fortalecimento comunitário, transformando adversidades em aprendizado, conforme Barreto (2008).

4. Saúde Integral: sustentada na articulação entre as dimensões física, emocional, espiritual e social, promovendo uma abordagem ampliada do cuidado, em consonância com a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC) e os princípios da integralidade do SUS (Ayres, 2009).

5. Dimensão Ancestral e Sistêmica: expressa na valorização das histórias familiares, dos legados ancestrais e das práticas de reverência e pertencimento, fundamentais na abordagem sistêmica da família (Hellinger, 2001; Schützenberger, 1998).

5. Recomendações Práticas e Políticas

Com base nas experiências relatadas e na análise teórica, apresentam-se as seguintes recomendações:

5.1. Fortalecimento da Comunicação Sistêmica

Capacitar profissionais de saúde em práticas comunicacionais terapêuticas.

Estimular a escrita terapêutica e a narrativa familiar como instrumentos de promoção da saúde.

5.2. Valorização da Educação Popular em Saúde

Criar espaços de diálogo horizontal entre profissionais e usuários do SUS.

Incorporar práticas pedagógicas baseadas em valores familiares e comunitários.

5.3. Ampliação das Terapias Comunitárias e Sistêmicas

Incluir a TCI e a Constelação Familiar Sistêmica como práticas regulares no SUS.

Fomentar formações que articulem práticas terapêuticas e comunitárias.

5.4. Promoção da Saúde Integral Intercultural

Integrar práticas espirituais e tradicionais aos serviços de saúde.

Respeitar e valorizar a diversidade cultural no cuidado à saúde.

5.5. Fomento a Redes Comunitárias de Cuidado

Incentivar o voluntariado e o fortalecimento de lideranças comunitárias.

Promover a articulação entre instituições religiosas, comunitárias e de saúde.

5.6. Institucionalização da Dimensão Familiar e Ancestral

Desenvolver programas que valorizem a memória familiar e os legados ancestrais.

Incorporar a perspectiva sistêmica e transgeracional nas políticas públicas de saúde.

6. Considerações Finais

As experiências narradas e analisadas neste artigo revelam a potência transformadora da comunicação afetiva, das práticas familiares e do trabalho comunitário na promoção da saúde integral. A articulação entre saberes tradicionais, espirituais e científicos amplia as possibilidades de cuidado e fortalece redes comunitárias e familiares.

Propõe-se, assim, a consolidação de um modelo de atenção à saúde que reconheça a complexidade das experiências humanas e valorize a diversidade cultural, familiar e comunitária, como caminho para a construção de uma sociedade mais inclusiva, solidária e saudável.

Referências

Ayres, J. R. C. M. (2009). Cuidado: trabalho e interação nas práticas de saúde.

Barreto, A. (2008). Terapia Comunitária Integrativa.

Berger, P., & Luckmann, T. (1966). A construção social da realidade.

Freire, P. (1987). Pedagogia do Oprimido.

Hellinger, B. (2001). Constelações Familiares: A Ordem Oculta do Amor.

Minuchin, S. (1982). Famílias: Funcionamento e tratamento.

Schützenberger, A. A. (1998). A árvore genealógica.

Vasconcelos, E. M. (2014). Educação Popular em Saúde.

Watzlawick, P., Beavin, J. H., & Jackson, D. D. (1967). Pragmatics of Human Communication.

autor Principal

Diego da Rosa Leal

npicscabralia@gmail.com

Enfermeiro Terapeuta Sistêmico

Coautores

Diego da Rosa Leal, Alda Silva da Rosa, Fabrício da Silva Costa, Adriana Andrade Costa

A prática foi aplicada em

Todo o Brasil

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Forum Jutahy Fonseca, Santa Cruz Cabrália - BA, Brasil

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