- Atenção Primária à Saúde
Mateus Emanuel da Silva Santos
- 22 maio 2024
Apesar de as pesquisas e evidências cientificas comprovarem a segurança e eficiência das vacinas para prevenir e proteger a população de doenças imunopreveníveis, ainda encontramos uma parte da população que não se beneficia com essa intervenção. Embora a aplicação de imunizantes seja realizada diariamente nas salas de vacinas do município, ainda existe um número de crianças com vacinas em atraso. Pensando nesse público não vacinado, a Secretaria Municipal de Saúde desenvolveu estratégias adicionais para mobilizar a população e aumentar o cobertura vacinal. Essas ações iniciaram com uma carta do prefeito municipal enviada a famílias com crianças, convidando-as para comparecer na unidade de saúde portando a carteira de vacinação. Os agentes comunitários de saúde foram orientados e efetivaram a entrega dessas cartas. Além dessa ação, durante o Dia D, no sábado, dia 20, ocorreu a Festa da Vacina, momento de muitas brincadeiras, diversão, alegria e descontração com brinquedos infláveis, música infantil e balões. Para o sucesso dessa festa, foi produzido e distribuído convite aos pais ou responsáveis, especificando hora, dia e local do evento. Aquele momento foi transformado em algo mágico e encantador para pais e filhos, o que permitiu diminuir o desconforto causado pela temível agulha usada para aplicar o imunizante. Além disso, como forma de reforçar a atividade, foi realizado um trabalho conjunto com as escolas. Os professores orientavam os pais a procurarem a unidade de saúde e retornarem com o atestado de vacinação fornecido pelos profissionais na sala de vacina, após avaliação das carteiras. Os meios de comunicação foram fundamentais para divulgação dessas estratégias e para garantir adesão a elas. As emissoras de rádios locais, divulgaram os eventos e, a campanha nacional de vacinação contra a poliomielite e multivacinação para atualização da caderneta da criança e adolescentes. Os jornais da cidade colocaram a carta do prefeito como encarte na edição da semana que antecedeu o início da Campanha Nacional. Essas mobilizações para vacinação e atualização das carteiras de vacina, aconteceram no mês de agosto de 2022. Naquele período, em todo território nacional, ocorreu a campanha nacional de vacinação contra a poliomielite e multivacinação para atualização da caderneta da criança e adolescente. Destaca-se que o sucesso obtido com as estratégias foi comprovado com levantamento de dados no Gespam Abase Sistema e, no mês de agosto, ficou evidenciado o maior número de crianças vacinadas. O desenvolvimento dessas estratégias impulsionou a cobertura vacinal da Poliomielite e o resultado de 104,65% na vacinação infantil com esse imunizante, obteve o reconhecimento deste Estado e do Ministério Público do Rio Grande do Sul nos homenageando com o selo “Município amigo da Vacina”.
A população de crianças de até cinco (5) anos em São Luiz Gonzaga é de 2.537, representando uma faixa etária prioritária para as ações de imunização no município. Nesse sentido, acredita-se que vacinar seja um ato de amor e proteção, todavia são enfrentados alguns desafios como a recusa ou indecisão dos pais para vacinar os filhos, o que pode ser atribuído à soma de vários fatores socioculturais, políticos e pessoais. Dentre esses fatores, podem-se registrar: ideias antivacinais; dúvidas sobre a real necessidade de vacinar as crianças; desconfiança sobre a eficácia da vacina; temor de possíveis eventos adversos; pensamentos equivocados sobre a segurança ou sobrecargas de imunizantes; e, não menos importante, a falta de percepção do risco de contrair a doença. Também pensamos que pais e cuidadores desejam proporcionar o melhor para seus filhos e, nessa busca, procuram informações e apoio em amigos, redes sociais e textos literários sem fundamentação cientifica (as fake news), o que pode resultar na desistência da vacinação. Enfrentar essas questões requer conhecimento dos problemas que afastam parte população dos imunizantes, bem como possuir uma rede de saúde estruturada com informações, equipamentos e profissionais capacitados para atrair esta população faltosa. Por isso, apesar da busca por um sistema de imunização eficiente e capaz de atender toda a população, ainda temos desafios a vencer.
Além do conhecimento do profissional ofertado aos pais, garantindo a eficácia do agente imunobiológico e a seguridade dos mesmos, também é imprescindível contar com estrutura física, materiais de enfermagem e equipamentos de refrigeração adequados e em condições ideais de funcionamento. É conhecido que o ofício de saúde sofre com a burocratização do serviço público, especialmente nas licitações, fato que, excepcionalmente, pode causar alguns transtornos ocasionando falta de insumos, problemas de infraestrutura e até dificuldade para manutenção de equipamentos. Os imunizantes utilizados neste município provêm da 12ª Coordenadoria Regional da Saúde e chegam em caixas térmicas que mantêm o produto em temperatura adequada. Aqui existe uma central que recebe os imunizantes, confere-os, lança-os no sistema e os distribui para as demais salas de vacinas. Esse trabalho tem inicio no ato do recebimento, estendendo-se ao processo de transporte, e termina com a administração do imunizante no usuário. Todo o processo de transporte é realizado pela frota de veículos da Secretaria Municipal de Saúde. Esse serviço tem uma grande demanda e, ocasionalmente, retarda a saída dos imunizantes da central de distribuição municipal. No mesmo espaço físico dessa Central, existe uma sala de vacina, e é a sala de imunização mais antiga no município que segue como referência para população. Essa situação, porém, ocasiona sérios problemas à rede, pois muitas pessoas não acessam o imunobiológico disponível em sua UBS de referência e escolhem esse local para se imunizar, o que, evidentemente, acarreta sobrecarga do serviço
Vacinar todas as crianças na época determinada no calendário vacinal, representa, portanto, a grande meta da Secretaria de Saúde. Nesse sentido, como forma de enfrentar esse problema, a gestão e as equipes de imunização do município têm direcionado esforços na busca ativa das crianças faltosas. Isso ocorre por meio da promoção de eventos alusivos, campanhas de conscientização em mídias locais, melhorias do acesso as vacinas, informações segura nos meios de comunicação, cartazes expostos em pontos estratégicos e valorização do contato com os pais ou responsáveis. O profissional de saúde exerce, portanto, um papel fundamental e pode aproveitar cada oportunidade para esclarecer os pais sobre assuntos de saúde e, principalmente transmitir confiança nas vacinas. Para os profissionais sentirem-se seguros, são indispensáveis atualizações frequentes sobre os imunizantes disponíveis no programa nacional de imunização. Além disso, é preciso estarem atentos às mudanças que ocorrem nos calendários vacinais, saber a possibilidade da ocorrência e como manejar os eventos adversos. Tais atualizações podem ser feita por meio de cursos presenciais ou EAD, lives, documentos científicos e consultas com técnicos da Coordenadoria de Saúde. Adquirir esses conhecimentos possibilita ao vacinador responder com segurança aos pais, conferindo credibilidade a sua fala, além de segurança na execução de seu trabalho. Incentivar a humanização do serviço pode ter um impacto significativo nos indicadores de vacinas. Dialogar com a população, construir uma relação de afeto com os pais e ter uma atitude de escuta sanando as dúvidas parece fazer muita diferença na confiança dos pais com o serviço oferecido pela unidade de saúde. Também é importante perceber se as informações sobre vacinas foram corretamente assimiladas, acolhendo as dúvidas e, nesses momentos, procurar não emitir julgamentos. Respeitar o nível intelectual, a cultura, a história, o momento vivido pelo ser humano quando busca a vacina são ações pertinentes para aumentar a cobertura vacinal. Reforçamos também nossa convicção de que essas atitudes são importantes aos profissionais do serviço de imunização. Sugerir aos pais que procurem informações seguras junto aos profissionais de saúde, Ministério da Saúde e sociedades de entidades dos profissionais dessa área pode minimizar as falsas notícias divulgadas nos meios sociais. Aproveitar todas as oportunidades para conversar sobre as vacinas, não apenas para a criança, mas para os outros membros da família, pode ter impacto significativo na atualização do calendário vacinal das crianças, adolescentes, adultos e idosos. Para o êxito do trabalho, além do relacionamento usuário-profissional, é necessário estrutura física, equipamentos e insumos para ocorrer a operacionalização dos procedimentos. O serviço de saúde não pode deixar de vacinar por falhas na organização do serviço. Pensando nesse aspecto primordial, é importante uma reflexão sobre a prática da função administrativa do funcionário da sala, como uma forma de melhorar a qualidade do serviço e do trabalho. A função administrativa do vacinador precisa ser conciliatória com a assistência e a burocracia do serviço. A adoção de uma instrumento de trabalho no qual será possível rever e prover recurso materiais, insumos e manutenção dos equipamentos é uma proposta que deve ser pensada pelos gestores como forma de evitar as perdas de vacinas e das oportunidades para vacinar a população.
O declínio na cobertura vacinal amplamente divulgado nos meios de comunicação é um sério problema da saúde pública. Acreditamos no fortalecimento do vínculo entre usuário e profissional de saúde como uma ação importante para garantir a imunização infantil. Assim, estabelecer uma comunicação clara, para esclarecer dúvidas e proporcionar um ambiente acolhedor, aproxima os pais do serviço e repercute nas coberturas vacinais. Também pensamos que atrair a população para vacinar representa um grande desafio para os gestores, juntamente com os profissionais de saúde, e o fato desestabelecer estratégias para atualização das carteiras vacinais, requer iniciativa dos municípios. Constatamos que realizar campanhas de vacinas proporcionando atividades práticas tais como brincadeiras, pinturas no rosto, e outros momentos que encantem as crianças, propicia um momento mágico e possibilita a atração delas o que permite aumentar a cobertura vacinal. Além das estratégias realizadas pelos gestores e profissionais da Secretaria de Saúde, acreditamos que o êxito dessas atividades também se deve às ações intersetoriais e ao apoio dos meios de comunicação. E, para encerrar esta manifestação de entendimento do tema, afirmamos que a necessidade de produzir mudanças nos modos de gerir e cuidar, inclui os vacinadores na gestão, reinventando seus processos de trabalhos e tornando-os, assim, agentes ativos das mudanças no cenário nacional de vacinação.
São Luiz Gonzaga, RS, 97800-000, Brasil
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