- Promoção da Saúde
Bruno Henrique da Silva Ramos
- 18 nov 2024
É importante ressaltar que todas as atividades humanas geram resíduos, influenciando o clima do planeta, gerando montanhas de entulhos que mudam as paisagens locais, além de contaminarem o solo, os lençóis freáticos e as águas dos rios, lagos e oceano. Em contrapartida, o legislador vem criando obrigações aos geradores desses resíduos e ao setor público, visando ao seu correto descarte. Por meio dessa prática, aliado a reutilização dos resíduos sólidos e políticas de sensibilização do público envolvido no processo, essa metodologia tem gerado renda e influenciado decisivamente no PIB de alguns países a exemplo da Alemanha, Suécia e Japão, contribuindo para melhorar o meio ambiente e a integração humana.
Acreditamos que a reutilização dos resíduos hospitalares recicláveis, de forma criativa e inovadora, transforma vidas, fomenta a sustentabilidade e o protagonismo social, através da reeducação sócio- ambiental e da consequente geração de renda pela aplicação dos materiais em projetos de arte e moda. Nosso objetivo é alcançar o estado de bem-estar, reconhecimento da necessidade da cultura como fonte para o desenvolvimento social, atitudes transformadoras com foco em criatividade e produção, mantendo equilíbrio com o ecologicamente adequado.
Com o objetivo de Identificar os resíduos recicláveis, incentivar a equipe a segregar corretamente todos os residuos, possibilitando a reciclagem ou a reutilização.
Grande desafio! Como motivar uma equipe multidisciplinar a aderir essa nova boa prática? Como ter uma parada em uma sala cirúrgica para falarmos sobre o tema? O primeiro passo foi desenvolver um time de multiplicadores, precisava de ajuda, não conseguiria sozinha atingir todos os colaboradores, utilizei uma anedota que circulava nas redes sociais sobre “ O rato e a Ratoeira”, armada com RDC ( 306/2004 à época, agora 222/2018), artigo no 225 da CF/1988, levando a responsabilidade sob o papel de cidadã com o nosso meio ambiente.
Com apoio da equipe de técnicos iniciamos os diálogos diários, treinamentos para a identificação dos resíduos, sensibilização das equipes apresentando novos produtos com os nossos resíduos (arte-artesanato), segregação primaria, implantação da coleta seletiva mais eficiente, armazenamento na fonte, disposição final ambientalmente adequada. E o desafio continua, segregamos corretamente mas o que fazer com os resíduos recicláveis, se não tínhamos recicladores interessados nesses resíduos principalmente as mantas de SMS? O volume era grande. Atuava em dois hospitais tanto na rede publica como na rede privada. Precisava dar uma utilidade aquele material inerte – não podia separar e jogar no resíduo comum. Mobilizei algumas senhoras da comunidade que costurava e pedi que produzissem sacolas, sacos, bolsas, nécessaire, aventais, dentre outros como também a colegas que tinham habilidades artesanais para aumentar a vida útil desses resíduos. Nesse momento fui arrebatada pela arte começo a pintar usando como suporte o próprio resíduo reciclável, inicio apresentações em exposições, feiras de artesanatos, palestras e oficinas.
Atuo no mercado de trabalho, no setor saúde como técnica de enfermagem há mais de 34 anos e a vasta experiência no ambiente hospitalar, me fez perceber a mudança do perfil dos resíduos diante da evolução cientifico-tecnológica, principalmente no bloco cirúrgico, hoje com os artigos de uso único independe de serem usados se abertos temos que descartar, precisamos ter atenção ao consumo.
Em março 2016 estávamos mudando nosso processo de trabalho, deixando de usar o tecido de algodão cru para as mantas de SMS (spunbond-meltblow-spunbond), tanto para os kits cirúrgicos como as embalagens das caixas cirúrgicas. Nesse momento visualizava o aumento do volume dos resíduos, o que demandava ação, ainda mais com um resíduo com grande potencial de ser reutilizado. Durante esse trabalho de conscientização sobre a coleta seletiva fomos descobrindo vários materiais descartáveis como tampas plásticas de medicações, papel, papelão, etc que poderiam ser ressignificados e não temos recicladores.
Após sensibilizar os colaboradores, os resultados, apesar de não mensurados, foram visíveis e potencialmente expressivos no que se refere ao aumento dos resíduos recicláveis. E ainda as possibilidades de reutilização, com arte, vários talentos descoberto nesse processo, inclusive o meu.
Participei da 4a Mostra de trabalhos da Segurança e Qualidade, Tema: Qualidade e Segurança um Compromisso com a Sustentabilidade, recebendo o 2o lugar na categoria Boas Práticas no Hospital São Rafael em 2017(rede privada), apresentei o trabalho, “O Resíduo Gerando Comunicação e Estima” na Sessão de Pôsteres do 12º Seminário dos Hospitais Saudáveis- 2019.
Os frutos deste trabalho foram inúmeros, dentre esses podemos citar a diminuição do impacto ambiental negativo com redução dos resíduos comuns e infectantes; abertura de possibilidades dos colaboradores apresentarem seus trabalhos manuais feitos com resíduos sólidos recicláveis em exposições na própria instituição; elaboração de POP – Procedimento Operacional Padrão, com base nesta experiência exitosa, disciplinando a correta segregação dos resíduos recicláveis e sua distribuição a parceiros e/ou compradores, inclusive para aprendizado e aplicação em outras áreas da instituição.
Em setembro de 2017 tivemos uma participação importante no primeiro desfile da creche- escola Primeiro Passo alunos da Prefeitura de Salvador, onde as roupas das crianças foram feitas de SMS, material das embalagens de caixas cirúrgicas.
Em dezembro de 2017 participamos de Feira Retalho Criativo onde tivemos a possibilidade de expor nossos trabalhos com os resíduos ao publico externo.
Em 2018 iniciamos oficinas criativas periódicas na pediatria do hospital São Rafael e do Hospital Geral de Camaçari levando o tema Brincar, Construir e Aprender utilizando os resíduos limpos e livres de contaminação – uma parceria com a professora do hospital escola com o projeto Bibliomóvel.
Janeiro de 2019 tivemos uma oportunidade como Revivart de participar de um programa do com apoio do Estado da Bahia através do Fundo de Cultura, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda chamado Mestre Projetista com uma Grande Mostra Publica na Biblioteca Central da Bahia, uma Oficina Criativa com os resíduos recicláveis – uma experiência única!
Essa iniciativa percorreu além dos muros do hospital São Rafael e do Geral de Camaçari -começamos a receber resíduos de outras instituições de Saúde de Salvador, além de convites para falar sobre o assunto nas universidades e hospitais.
Em 2020 durante a pandemia confeccionamos equipamentos de proteção individual reutilizando o SMS(coleta seletiva) já que se travava de material de barreira conforme RDC da época, que liberou o uso manufaturados; atentemos dois grandes hospitais em Salvador durante 2 meses, produzindo máscaras, proteção tipo botas, elmos para proteção de cabeça e face e aventais descartáveis.
Em 2021 retomei as oficinas criativas e tive minha primeira exposição com o título “Do Coletor de Resíduo ao Luxo das Artes na Maternidade de Referencia do Estado da Bahia Prof. José Maria de Magalhães Netto.
2022 foram 7 exposições individuais em Salvador, com o tema “Arvorecer, Uma Expansão da Memória Artística” como posso citar Centro de Estudos dos Povos Afro-Indígena-Americanos da UNEB, Casa do Benin, Assembleia Legislativa- BA, Hospital Santo Amaro, Foyer da Universidade do Estado da Bahia, sem contar as exposições coletivas em todo Brasil e oficinas criativas como exemplo na Bienal do Livro Bahia onde realizei a oficina de livros confeccionados com embalagens das caixas de cirurgia.
2023 Exposições e Palestras no Museu Nacional de Enfermagem com o tema “Do Coletor do Resíduo Reciclável ao Luxo das Artes”, exposição “Alma das Flores”, Rodas de conversas e diversas Oficinas no Memorial da Medicina Brasileira- UFBA, Exposição na Câmara de Vereadores do estado de São Paulo, Exposição e oficina na Floresta Nacional de Ipanema- SP, e recebi meu 1º Prêmio Pretas Potências na Artes Visuais da PretaHub – SP, realizei diversas Oficinas de Livros confeccionados com as embalagens de caixas cirúrgicas em escolas da Rede Municipal, em Museus e Hospitais.
Em 2024 participei da Bienal Black Brazil no Rio de Janeiro com duas obras com foco no resíduo sólido hospitalar e realizei 3 Oficinas criativas em uma escola publica GET Dorcelina Gomes da Costa e no Centro das Artes Calouste Gulbenkian. Participei de um evento coletivo na Colômbia com uma Obra reutilizando como suporte o resíduo hospitalar reciclável.
Agora me preparando para 1ª Exposição Internacional em Moçambique – Maputo, pois tive meu projeto aprovado pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia além da exposição farei oficinas reutilizando o resíduo sólido hospitalar reciclável.
Não foi tarefa fácil, mas conseguimos!
Esse trabalho pode envolver palestras, oficinas, workshops para capacitação dos colaboradores das instituições de saúde com foco em reutilização dos resíduos sólidos aplicados, sob o intuito de sensibilização do público interno, o que gera interação com a comunidade local, com base em uma proposta integradora, sistêmica, dinâmica e diversificada de comunicação com todas as partes interessadas envolvidas, para valoração da atividade manual e/ou intelectual do trabalhador e da marca institucional, sob a chancela de sua adequada atuação na área socioambiental, o que possibilita otimização de recursos e formação de elo com a economia sustentável, melhorando o clima organizacional e o relacionamento com envolvidos e afetados pelo processo.
SGE
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