- Atenção Primária à Saúde
Railson Fernandes da Silva
- 08 maio 2024
As quedas de coberturas vacinais nos últimos anos e a ocorrência de casos em outros países são preocupantes e compõem um cenário de risco mundial para reintrodução do poliovírus. As Campanhas Nacionais de Vacinação são estratégias importantes para mobilizar e resgatar as coberturas vacinais para prevenção e controle de doenças imunopreveníveis. OBJETIVO: Atingir a meta de 95% de cobertura vacinal durante a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite. METODOLOGIA: Foi realizada uma campanha de vacinação ampliada, nas Unidades de Saúde, nas escolas e nos domicílios, no período de agosto a outubro de 2022, no município de Louveira/SP. O público-alvo selecionado foi a população residente, na faixa etária de 1 a 4 anos. A vacinação foi direcionada para demanda espontânea e posteriormente busca ativa de faltosos, para captação de crianças ainda não vacinadas. Participaram da ação as 6 Unidades de Saúde e a Vigilância em Saúde. A vacinação foi realizada em todas as Unidades de Saúde e durante o período da campanha, foi ampliado o horário de funcionamento aos sábados. Durante a ação de parceria com a educação, as equipes visitaram 19 escolas municipais. As famílias responsáveis pelas crianças foram informadas pelas escolas previamente para autorização e para envio da carteirinha de vacinação. A última etapa da ação consistiu na vacinação domiciliar. Foi extraída uma listagem nominal de crianças de 1 a 4 anos da base de cadastro do sistema municipal Cartão Cidadão, com endereços e telefones para contato. Foi realizado um primeiro contato via WhatsApp para identificação de crianças que ainda não haviam tomado a dose de campanha. Tendo-se identificado esse público, foi agendado dia e horário para vacinação domiciliar. As equipes eram compostas por 2 profissionais da saúde, com veículo para transporte, e a vacinação foi realizada nos turnos diurno e noturno. RESULTADO (s): Foram vacinadas 2.514 crianças nas Unidades de Saúde, 154 crianças nas escolas e 240 crianças na ação casa a casa. A população alvo estimada de crianças de 1 a 4 anos no município é de 3.061 e foram aplicadas 2.908 doses, atingindo-se a meta de 95%. No total, 394 crianças foram vacinadas em ações extramuro, o que corresponde a um incremento de 13% na cobertura vacinal final. Observou-se que, mesmo com a ampliação do acesso à vacinação nas Unidades de Saúde, muitas crianças foram vacinadas apenas durante estratégia de busca ativa. A ação também proporcionou maior integração entre a Vigilância em Saúde e a Atenção Primária em Saúde. Outra potencialidade foi ampliar o olhar para a prevenção em saúde e imunização no contexto de território. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Ampliar a oferta da vacina em múltiplos contextos foi essencial para atingir a meta de cobertura vacinal contra a poliomielite. Garantir o acesso universal à vacinação na Unidades de Saúde, mas também ampliar o acesso para as populações mais vulneráveis e que por outros motivos não procuram por esses serviços, é peça chave para o resgate de nossas coberturas vacinais e fortalecimento da imunização como uma das “meninas dos olhos” do SUS.
Considerando o cenário atual, conforme discutido no parágrafo anterior, entendo que há duas estratégias essenciais para desmistificarmos a falsa impressão de muitos sobre a falta de segurança em relação à vacinação e também para fortalecer nossas coberturas vacinais: intensificar as ações de divulgação e mobilização social, em linguagem acessível e interessante para o público em geral, e mudar o foco das ações de vacinação de uma visão tradicional, de espera passiva nas UBSs, para uma lógica de descentralização para dentro do território. Com base na experiência do trabalho inscrito nessa oficina observamos claramente que esse “mudar de chaves” é essencial para recuperarmos a vacinação como “a menina dos olhos” no SUS, o que, felizmente, foi estabelecido como prioridade pela atual esfera federal no ano de 2023.
Divulgar a importância da vacinação, bem como sua segurança, nas mídias oficiais e populares, de acordo com as faixas etárias que se deseja alcançar em ações específicas (por exemplo, “TikTok” para adolescentes); organizar unidades volantes de vacinação em bairros que não dispõe de UBS / sala de vacina ou com vulnerabilidades identificadas (como bolsões de suscetíveis ou áreas mais remotas); ampliar a atuação das equipes de vacinação em eventos de outras naturezas, para que a vacinação seja lembrada em sua importância e volte a fazer parte natural da vida das pessoas.
o bem sucedido histórico do Programa Nacional de Imunização e a robustez dos resultados na redução de agravos imunopreveníveis se comparado às curvas ascendentes de coberturas vacinais, por si só, já são potências que justificam o investimento de um esforço maior para recuperarmos sua importância e seu reconhecimento. Já entre as fragilidades, podemos citar a hesitação vacinal, a pandemia de covid-19, e o desmonte moral e financeiro do SUS, que prevaleceram em um passado político recente. Para finalizar, visualizo o atual cenário como desafiador, mas ao mesmo tempo promissor, visto que existe uma clara percepção da problemática e visto que é perceptível que vários esforços estão sendo investidos em sua resolução ou atenuação no presente momento. Agregar a participação das equipes de saúde em todas as esferas de gestão, dos veículos de comunicação popular e da sociedade civil é essencial para fortalecer a vacinação como o coração da saúde coletiva novamente em nosso país.
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