Redução de uso de antidepressivos em um centro de especialidades

Em março de 2019, iniciei o acompanhamento de 450 pacientes que usavam diversos medicamentos psiquiátricos prescritos por outros médicos. A fluoxetina era a droga mais utilizada por eles: aproximadamente 10.000 cápsulas mensalmente. No primeiro contato com esses pacientes, procurei entender o motivo deles estarem usando tais medicamentos. A maioria das respostas vinha na forma de um diagnóstico. Quem eram afinal esses pacientes além de um diagnóstico? Precisava então escutá-los para além dos sintomas. Meu desejo de escuta abriu então a possibilidade para que eles começassem a falar não só dos seus sintomas, mas também de suas angústias, perdas, inibições, medos diante da vida. Descobri que a grande maioria não buscava remédios no sentido de medicamentos, mas sim no sentido de remediar, aliviar um sofrimento, querendo também um entendimento sobre a verdadeira causa. Continuavam com seus remédios porque tinham fé. Uma fé no discurso amplamente divulgado pelas indústrias farmacêuticas em nome da ciência de que a causa dos transtornos mentais estaria num desequilíbrio neuroquímico. Nesse sentido, a escuta qualificada vai possibilitar uma compreensão além das teorias sobre neurotransmissores, fazendo com que o paciente perceba por exemplo, que sua depressão poderia estar sendo causada por um medo de se deparar com as impossibilidades e faltas. Nesse ponto, já se torna difícil fazer com que o paciente acredite no poder mágico de um comprimido. Esta escuta ocorreu nos atendimentos psiquiátricos e pelo psicanalista coautor deste trabalho. Muitos pacientes que atingiram o ponto acima começaram a querer diminuir seus medicamentos e alguns o fizeram por conta própria. Sempre que fui notificado sobre a intenção de redução, orientei para que a mesma fosse gradual e sobre a dificuldade de fracionar as doses em nosso país. Explicava os possíveis sintomas e marcávamos retornos mais frequentes, gerindo a retirada de forma conjunta. Apostei no fato de que talvez os sintomas de abstinência fossem mais tolerados se os pacientes soubessem que não estariam desamparados.

Vivemos numa realidade de excesso de diagnósticos e medicação psiquiátrica e a grande dificuldade para a retirada de antidepressivos são os sintomas de abstinência. A experiência de pacientes, ex-pacientes e profissionais sugere que essa redução deva ocorrer de forma gradual e bastante fracionada. Na prática psiquiátrica, este fracionamento torna-se muito difícil já que os medicamentos comercializados e os fornecidos pelo SUS possibilitam na maioria das casos uma redução de no mínimo 50%, redução muito grande e produtora de muitos sintomas de abstinência.

Este trabalho tem sido uma aposta na escuta e no sujeito e com isso possibilitando uma maior responsabilização e participação do paciente no processo de medicação. Para que isso aconteça é importante que o serviço forneça possibilidades para essa escuta, com tempo disponível e equipe comprometida com a ética do sujeito.Importante também que e questão da patologização e medicamentalização seja trabalhada por todos os profissionais da saúde mental, principalmente CAPS.

Principal

Marcelo José Fontes Dias

fontesdias67@gmail.com

Coautores

Marcelo José Fontes Dias

A prática foi aplicada em

Jaraguá do Sul

Santa Catarina

Sul

Esta prática está vinculada a

Instituição

Jaraguá do Sul - SC, Brasil

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

Marcelo José Fontes Dias

Conta vinculada

02 jun 2023

CADASTRO

14 set 2024

ATUALIZAÇÃO

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Concluída

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