Projeto quilombos: o cuidado realizando práticas integrativas e complementares em quilombolas da Amazônia

Os quilombos surgiram a partir da diáspora negra, que se caracteriza pela dispersão forçada dos povos africanos em função da escravidão. A vida dos escravizados nas colônias eram regadas a castigos físicos, trabalhos forçados e subjugação, e com isso os movimentos de resistência começaram a surgir, sejam eles individuais ou coletivos. O quilombo tornou-se, então, uma unidade territorial com 6 ou mais negros escravizados fugitivos que tinham a intenção de se defender. Os habitantes desses quilombos eram chamados de “callambolas” (Silva & Silva, 2015).

Portanto, comunidades quilombolas são grupos étnico-raciais segundo critérios de autoatribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida. A população negra tem sido objeto de políticas de saúde, tendo em vista as particularidades concernentes às disparidades de suas condições de saúde, do ponto de vista individual e coletivo (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2013).

Desta forma, o acesso à saúde das comunidades remanescentes quilombolas é mais dificultado, o que afirma a existência da iniquidade. No âmbito da saúde da mulher negra, o planejamento familiar e cuidados pré-natais aparecem intimamente relacionados à saúde destas mulheres. Em ambos os sexos, a hipertensão, diabetes mellitus, obesidade e problemas relacionados à saúde mental aparecem como as doenças mais prevalentes, além do etilismo estar frequentemente associado a esta população (Pereira & Mussi, 2020). Dentre as doenças encontradas em comunidades quilombolas, a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), doenças de pele como a ptiríase versicolor e acne são prevalentes. As cáries, perdas dentárias, doenças gastrointestinais também ocorrem em número elevado e, estes agravos apresentam fortes relações com os Determinantes Sociais da Saúde (Melo & Silva, 2015).

Uma das possibilidades de cuidado a saúde dos quilombolas são as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), as quais visam a prevenção, manutenção e promoção à Saúde, utilizando práticas não invasivas que abordam o físico, emocional, social e espiritual da população interagente.

Não havia registro na Amazônia de algum grupo trabalhando com PICS na população quilombola, além disso, há necessidade do fortalecimento dessas práticas no Estado do Pará, já que esta política se encontra em período de execução na capital Belém, contudo, nos outros municípios é praticamente inexistente. Diante deste contexto, a autora/pesquisadora Priscila Pinheiro, cria o PROJETO QUILOMBOS, que objetivou fazer um diagnóstico situacional nos quilombos de Tambai-açu e Icatu (Município de Mocajuba/PA) e validar um protocolo do cuidado farmacêutico envolvendo as PICS, mostrando a importância destas no controle e prevenção de doenças.

A população negra tem sido objeto de políticas de saúde, tendo em vista as particularidades concernentes às disparidades de suas condições de saúde. Segundo a literatura, as doenças crônicas-degenerativas são predominantes nessas comunidades, sendo a hipertensão o problema de saúde mais frequente, nas comunidades quilombolas como também na população negra em todo o mundo. Logo, percebeu-se a oportunidade de estimular o conhecimento sobre essa doença e incentivar o uso correto de medidas complementares, como as práticas integrativas, as quais fazem parte do Sistema Único de Saúde desde 2006 (Política Nacional de Práticas integrativas e complementares).

Inicialmente, a autora desta prática, realizava ações de saúde em parceria com a prefeitura do município de Mocajuba, fazendo consultas farmacêutica nos quilombos. Através destas, foi percebido as carências e fragilidades quanto as implementações das políticas de saúde pública dentro dos quilombos da Amazônia. Fato que levou a elaboração do projeto de doutorado (Projeto Quilombos) da referida autora. Após aprovação em CEP/IEC (CAAE: 60723622.3.0000.0019) iniciou-se a aplicação de formulários, as coletas de amostras, mapeamentos, consultas farmacêuticas de validação de protocolo e realização de PICS, dentre elas a prescrição de plantas medicinais e fitoterápicos, aromaterapia e auriculoterapia com foco no controle da hipertensão arterial, que foi a patologia mais predominante entre os quilombolas.

Foram vários os resultados importantes obtidos através da atuação do farmacêutico clínico com capacitações em PICS na população remanescente quilombola da Amazônia:
1. Boa aceitação do cuidado em PICS do interagente;
2. Adesão ao tratamento com medicamentos fitoterápico e plantas medicinais;
3. Resgate e valorização da ancestralidade do cuidado na prescrição de plantas medicinais;
4. Validação de formulário para investigação da efetividade da auriculoterapia e aromaterapia em quilombolas com hipertensão arterial;
5. A redução da pressão sistólica foi observada em 90% dos indivíduos submetidos as práticas de aromaterapia e auriculoterapia;
6. O uso da aromaterapia associada a técnicas da MTC apresentaram bons resultados na intervenção de urgência para indivíduos com hipertensão moradores de quilombos. Observa-se que quando os indivíduos fazem corretamente o controle com medicamentos alopáticos, os benefícios são bem perceptíveis;
7. A maioria dos atendidos não conheciam as PICS (89 %), mas quando perguntado sobre uso de plantas medicinais, (74%) disseram que utilizam chás medicinais;
8. As principais plantas que estão nos quintais dos quilombolas são: erva-cidreira, boldo, capim-santo, gengibre, hortelã-pimenta, canela e bergamota;
9. As prescrições foram realizadas conforme anamnese, sendo os fitoterápicos mais prescritos: alcachofra (Cynara scolymus), espinheira santa (Maytenus ilicifolia), alho (Allium sativum), unha de gato (Uncaria tomentosa) hortelã-pimenta (Mentha x piperita) e maracujá (Passiflora incarnata);
10. Notou-se o potencial das PICS como ferramentas valiosas na promoção da saúde e no controle da pressão arterial em comunidades vulneráveis mais afastadas dos serviços de saúde, permitindo uma abordagem de cuidado mais integrativa que aproxima o individuo do seu contexto cultural, valorizando o autocuidado;
11. Foram aceitos e apresentados dois resumos no Congrepics de 2023;
12. Dois projetos aprovados e financiados no edital nº 70/2023 da Universidade Estadual do Pará (UEPA) para execução nos quilombos, versando sobre: aromaterapia para hipertensão arterial e Implementação de horto medicinal.

Recomenda-se primeiramente conhecer o local que será realizada a prática, que nós conseguimos através de um profundo diagnóstico situacional envolvendo uma visão única de saúde. Sempre está focado nas políticas públicas de saúde que valorizem a comunidade em estudo, tal como as PICS e a educação popular em saúde. Nunca impor um cuidado que não é aceito, respeitar a ética e retornar a comunidade com os resultados da pesquisa para que se possa dar aos gestores e lideranças comunitárias ferramentas técnicas-científicas e sociais de participação ativa na elaboração de políticas que vise a melhora na qualidade de vida.

Principal

Priscila de Nazaré Quaresma Pinheiro

priscilapcr4@gmail.com

Pesquisadora

Coautores

Priscila de Nazaré Quaresma Pinheiro, Karla Valéria Batista Lima, Emmily Oliveira Amador, Dayana de Barros Sandim, Susany dos Santos Tenório

A prática foi aplicada em

Ananindeua

Pará

Norte

Esta prática está vinculada a

Rodovia BR 316, 7 - Atalaia, Ananindeua - PA, 67013-000, Brasil

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

Priscila de Nazaré Quaresma Pinheiro

Conta vinculada

10 jan 2024

CADASTRO

14 ago 2024

ATUALIZAÇÃO

02 jan 2023

inicio

31 dez 2023

fim

Condição da prática

Concluída

Situação da Prática

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