Resumo
Este artigo apresenta um relato de experiência sobre o curso “Imposição de Mãos no SUS”, realizado em março de 2023, por meio das redes sociais, como ato de apoio à Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde (ANEPS). A iniciativa reuniu internautas de todas as regiões do país e integrou saberes da enfermagem com conhecimentos comunitários e literatura especializada, visando o fortalecimento das Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde. A prática foi fundamentada no diagnóstico de enfermagem ‘campo de energia perturbado’ e teve como base teórica citada, obras como A Fonte Não Precisa Perguntar Pelo Caminho (Hellinger), O Poder de Curar (Gordon) e Mãos de Luz (Brennan).
Palavras-chave: Imposição de mãos; Práticas integrativas; Enfermagem; Energia vital; Espiritualidade; SUS.
1. Introdução
O curso “Imposição de Mãos no SUS”, realizado em março de 2023 através das redes sociais, representou uma significativa contribuição para a valorização das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) no Sistema Único de Saúde. Organizado em apoio à ANEPS, o curso teve como propósito reconhecer e integrar os diversos saberes – técnicos, científicos, comunitários e espirituais – que sustentam a prática da imposição de mãos como tecnologia de cuidado.
2. Fundamentação Teórica
A prática da imposição de mãos é uma das mais antigas expressões de cuidado humano. Presente em diversas tradições espirituais, filosóficas e terapêuticas, ela constitui uma tecnologia sutil que transcende o toque físico, operando no campo da energia vital, da intenção e da conexão entre os seres. No contexto das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), reconhecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), essa prática ganha relevância como recurso acessível, comunitário, acolhedor e efetivo para o cuidado em saúde integral.
No referencial da enfermagem contemporânea, a imposição de mãos é sustentada por diagnósticos clínicos como “campo de energia perturbado” e “angústia espiritual”, presentes na taxonomia da NANDA-I. A sistematização proposta por Doenges, Moorhouse e Murr (2009) orienta intervenções terapêuticas para o restabelecimento da harmonia energética, incluindo práticas como o toque terapêutico, a centralização da atenção, a respiração e a sensopercepção.
Entre os autores ocidentais, destaca-se Barbara Brennan, com as obras Mãos de Luz e Luz Emergente, que descrevem a anatomia sutil do ser humano por meio do campo áurico e dos chakras. Richard Gordon, com O Poder de Curar e Toque Quântico, apresenta a energia vital como força real e mensurável, canalizada através da respiração e da intenção curadora. Bert Hellinger, por sua vez, oferece uma perspectiva sistêmica do cuidado, ancorada nas ordens do amor — pertencimento, hierarquia e equilíbrio — que se manifestam também no campo energético, por conta do campo morfogenético, presente e influenciante dos comportamentos e das relações humanas. Caroline Myss, Deepak Chopra e James Oschman também contribuem com abordagens que integram espiritualidade, ciência e saúde.
Do ponto de vista oriental, a imposição de mãos está relacionada ao fluxo do chi, ki ou prana, energia vital descrita em tradições como o Taoísmo, o Budismo e o Hinduísmo. O mestre japonês Mikao Usui, criador do Reiki, estruturou uma técnica de cura por imposição de mãos que atua nos centros energéticos do corpo. Mantak Chia, com o Chi Nei Tsang e os sistemas do Tao Curativo, também aborda a manipulação energética através de toques conscientes e respiração. Tarthang Tulku e Sri Aurobindo, entre outros, apresentam uma visão ampliada do corpo como veículo da consciência divina.
O curso também incorporou práticas contemporâneas como as Barras de Access Consciousness®, desenvolvidas por Gary Douglas e Dr. Dain Heer. Essa técnica atua por meio do toque leve, como uma imposição de mãos, em 32 pontos na cabeça, relacionados a aspectos como criatividade, controle, sexualidade, dinheiro e cura, promovendo a liberação de memórias, crenças limitantes e padrões emocionais. As obras Being You, Changing the World e The Access Bars Manual foram utilizadas como referências base.
Outro pilar importante do curso foi a imposição de mãos por meio do Sacerdócio de Melquisedeque, conforme praticado na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Esta abordagem espiritual combina o toque físico na cabeça, com oração e palavras de bênçãos com autoridade religiosa, de quem recebeu o Sacerdócio das Mãos de quem já o possuía, sendo aplicada especialmente em situações de cura da saúde ou conforto e consolo. Essa prática, amplamente difundida em comunidades cristãs restauracionistas, de membros da igreja, autodenominados ‘Santos dos Últimos Dias’, encontra respaldo nas escrituras modernas como o Manual de Instruções Gerais da Igreja, o livro Doutrina e Convênios e os volumes da série Santos — que narram a restauração do evangelho e do sacerdócio sobre a Terra. Durante o curso, foram registrados relatos de experiências e depoimentos de usuários e facilitadores voluntários, sobre os efeitos dessa prática, que, assim como ocorre no passe espírita, no Johrei – da Igreja Messiânica e da oração evangélica, impondo as mãos sobre a cabeça, demonstram ser uma das expressões mais comuns e acessadas da espiritualidade popular no Brasil.
Importante ainda destacar os saberes indígenas, cuja tradição de cura por meio do toque, do canto, da oração e do sopro sagrado compõe uma herança viva e fundamental no cuidado popular brasileiro. Autores como Ailton Krenak, Davi Kopenawa Yanomami e Célia Xakriabá revelam que o corpo, o território e o espírito são uma só realidade. Krenak afirma que “não há separação entre corpo, terra e espírito”, e Célia Xakriabá lembra: “quando tocamos, despertamos memórias do chão que pisamos”. A imposição de mãos, nesse contexto, não é uma técnica isolada, mas um ritual ancestral de reconexão com o coletivo, com os encantados e com os fluxos da vida.
As contribuições indígenas compartilhadas no curso, como o toque guarani apresentado por Rafael Cabral, reafirmam o valor da escuta do corpo e da ancestralidade como base do cuidado. A valorização desses saberes no contexto do SUS amplia a integralidade do cuidado, rompendo com paradigmas coloniais e tecnicistas, e abrindo espaço para uma prática de saúde mais viva, espiritual, relacional e democrática.
3. Metodologia
O curso foi promovido pelo CEJUSC/Fórum da Comarca de Santa Cruz Cabrália, em articulação com a Prefeitura Municipal, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), representado pelo Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), e vinculado ao Conselho Intersetorial de Políticas Públicas, com a colaboração das Secretarias de Educação, Cultura e Desenvolvimento Social. Contou ainda com a participação voluntária de facilitadores e terapeutas vinculados ao Programa de Apoio e Promoção de Saúde Integral “Npics Brasil”, rede sistêmica que articula práticas integrativas, espiritualidade e promoção do cuidado pela internet, à diversas regiões do país.
A formação foi organizada em formato híbrido, com predominância online, estruturada em aulas semanais e mini-aulas complementares, ministradas por meio de plataformas como Google Meet, Zoom e interações pelo WhatsApp. O conteúdo completo foi transmitido ao vivo e está disponível publicamente no canal Jornal Cabrália Brilha, ampliando a acessibilidade e o alcance da proposta. Os registros audiovisuais também foram arquivados no Instagram do Npics Brasil e sistematizados na plataforma de memória digital FamilySearch, garantindo a preservação histórica e pedagógica da experiência.
A metodologia adotou uma abordagem sistêmica e intercultural, integrando saberes acadêmicos, populares, espirituais e comunitários. O referencial teórico-metodológico foi baseado nos princípios da Terapia Comunitária Integrativa (TCI), desenvolvida por Adalberto Barreto, com ênfase na escuta ativa, construção coletiva do conhecimento e valorização das narrativas dos participantes como instrumentos terapêuticos.
O curso foi dividido em três níveis de aprofundamento: básico (online, introdutório), intermediário e avançado (disponíveis apenas na modalidade presencial). Cada etapa foi desenvolvida com recursos técnicos e vivências práticas, promovendo o fortalecimento das competências emocionais, espirituais e relacionais dos participantes, bem como a elaboração de planos terapêuticos individuais e comunitários com base nos diagnósticos de enfermagem e nas tradições integrativas.
Além das aulas expositivas, o curso promoveu momentos de partilha de experiências, rodas de conversa, meditações guiadas e relatos de casos vivenciados pelos próprios alunos, contribuindo para a sistematização do cuidado em saúde por meio da imposição de mãos e outras práticas energéticas. Esses conteúdos estão organizados em formato de memória audiovisual e escrita, servindo como material de apoio para formações futuras e pesquisa acadêmica.
4. Resultados e Discussão
Foram relatados efeitos terapêuticos positivos, por pacientes e familiares acompanhados pelos alunos, como alívio de dor, relaxamento, redução de ansiedade e melhoria na qualidade de vida. A diversidade espiritual e cultural dos participantes reforçou a legitimidade do cuidado energético no SUS.
5. Considerações Finais
A experiência do curso revelou a potência da imposição de mãos como tecnologia de cuidado espiritual, emocional e energético, com embasamento técnico e científico. Propõe-se a criação de um Observatório Nacional de Imposição de Mãos e PICS para sistematizar, pesquisar e formar profissionais capacitados. Organizou-se, provisoriamente, um Observatório Sistêmico, para continuar fomentando atividades deste porte.
6. Referências
BARRETO, Adalberto. Terapia Comunitária Integrativa: um instrumento do SUS. Fortaleza: Gráfica UFC.
BRENNAN, Barbara. Mãos de Luz. São Paulo: Cultrix, 2017.
CHIA, Mantak. Chi Nei Tsang: massagem dos órgãos internos. Tao Garden.
CHOPRA, Deepak. Cura Quântica. São Paulo: BestSeller, 2000.
DOUGLAS, Gary; HEER, Dain. The Access Bars Manual. Access Consciousness Publishing.
DOUGLAS, Gary; HEER, Dain. Being You, Changing the World. Access Consciousness Publishing.
DOUNGES, M.E.; MOORHOUSE, M.F.; MURR, A.C. Diagnóstico de Enfermagem: intervenções, prioridades, fundamentos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.
GORDON, Richard. O Toque Quântico; O Poder de Curar. São Paulo: Madras.
HELLINGER, Bert. A Fonte Não Precisa Perguntar Pelo Caminho. São Paulo: Atman, 2003.
KRENAK, Ailton. Ideias para Adiar o Fim do Mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A Queda do Céu. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
MYSS, Caroline. Anatomia do Espírito. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
OSCHMAN, James. Energy Medicine: The Scientific Basis. Elsevier, 2000.
SRI AUROBINDO. O Yoga Integral. Pondicherry: Sri Aurobindo Ashram.
TULKU, Tarthang. Time, Space and Knowledge. Dharma Publishing.
IGREJA DE JESUS CRISTO DOS SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS. Doutrina e Convênios. A Igreja, 2021.
IGREJA DE JESUS CRISTO DOS SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS. Manual de Instruções Gerais da Igreja, Vols. 1 e 2.
IGREJA DE JESUS CRISTO DOS SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS. Santos: A História da Igreja de Jesus Cristo nos Últimos Dias, Vol. 1–3.
Lives do Curso Nacional de Imposição de Mãos no SUS – Canal Jornal Cabrália Brilha:
Aula inaugural: https://www.youtube.com/live/wqJD69kNMG4?si=81QXbWpTR2tQ3ZwA
Segunda aula: https://www.youtube.com/live/dVDAWSt1m1o?si=EAyncLp1lIpg1sBu
Terceira aula: https://www.youtube.com/live/NpwKi_JS-P8?si=WKjhCNYj0igcWyUG
Álbum Público de Registros no FamilySearch:
https://www.familysearch.org/memories/gallery/album/1163039?cid=mem_copy
Forum Jutahy Fonseca, Santa Cruz Cabrália - BA, Brasil
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