Práticas terapêuticas integradas em saúde mental com adultos

As OCP buscaram experimentar um novo paradigma assistencial psicológico. Se estabeleceu oferecendo atendimentos breves, em torno de 10 a 15 sessões de psicoterapia, realizadas quinzenalmente, nas modalidades individual e grupal, a usuários adultos. Após esse período de atendimento, os pacientes foram reavaliados, tiveram alta, podendo prosseguir com o tratamento, caso necessário, no ano em curso. Foram constituídas, ao todo, quatro oficinas por ano, com capacidade para absorver até seis pacientes cada uma. A proposta do programa foi oferecer um trabalho integrado psicodinâmico nas áreas de psicanálise, atenção psicossocial, psicopedagogia e bioenergética, envolvendo a escuta clínica, a humanização, a aprendizagem e consciência corporal para os usuários. As atividades e atendimentos foram desenvolvidos de forma grupal e individual, seguindo o pressuposto do programa de atendimento integral ao paciente. No grupo visou-se acolhimento, integração, vinculação e mudança de posições, através de partilhas, leituras coletivas de textos e realização de dinâmicas de auto e heteroconhecimento, escritas reflexivas e vivências corporais focando liberação, sensibilização e relaxamento. Nos atendimentos individuais foram realizadas escutas livres e intervenções analíticas a partir das falas dos pacientes. Com relação à frequência e duração, cada paciente compareceu duas vezes ao mês: uma para o atendimento individual e grupal e outra apenas para o grupo. No atendimento individual, cada paciente foi ouvido durante quinze a vinte minutos e no grupo o tempo de duração ocorreu em torno de uma hora e meia. Inicialmente, as OCP foram implantadas e desenvolvidas em três fases. A primeira foi a fase de acolhimento preliminar, escuta de demandas e agendamento, realizada na sala de espera do ambulatório. A fase seguinte constituiu-se pela formação do grande grupo de acolhimento, formado por vinte e quatro usuários. A terceira fase se caracterizou pelo desenvolvimento propriamente dito da assistência psicológica breve. A assistência psicológica breve constituiu-se através da realização dos atendimentos individuais e grupais sob a forma de OCP, com seis pacientes em cada oficina. A quarta e última fase culminou com a avaliação, elaboração de relatórios, relato da experiência e a realização do I Seminário Interativo do Ambulatório e Caps Oswaldo Camargo, cujo tema foi a clínica da escuta e a atenção Psicossocial nas Práticas Profissionais, contando com a participação dos usuários e da equipe técnica.

Frente à análise das práticas terapêuticas realizadas na unidade, pode-se observar diversas peculiaridades. Em primeiro lugar, os usuários apresentam níveis de adesão insatisfatórios, ocorrendo, frequentemente, o abandono frente a tratamentos tradicionais de longa duração. Observa-se também a ausência de projetos de intervenção, o que corrobora o dito por Nunes de que a atuação é espontaneísta, ou seja, não se traça um plano, age-se de acordo com o referencial teórico-prático de cada profissional, não se fazendo uma avaliação posterior, o que tem gerado a inviabilização de novas medidas terapêuticas. Tendo em vista tal panorama, buscou-se revisar as práticas terapêuticas e oferecer uma proposta alternativa de assistência psicológica breve integrada em saúde mental. Objetivou-se a articulação e integração entre a clínica de orientação psicanalítica, que oferece escuta e intervenção analítica, e a atenção psicossocial, campo de atuação que envolve tecnologias leves, educacionais e sociais, promovendo assim novas formas de acolhimento, humanização, intervenção, reabilitação e repertórios de aprendizagens através das Oficinas de Crescimento Psicossocial (OCP).

Em geral, os participantes ressaltaram o aumento na qualidade de vida, o aprender a lidar com as dificuldades, a aceitação de mudanças imprevisíveis, a percepção da importância da prática terapêutica, o efeito da força do grupo, o aumento da esperança, a melhora da autoestima, o vínculo com os profissionais e com a instituição, além da redução de sintomas neuróticos como insegurança, medo, ansiedade e estabilização de alguns fenômenos elementares referentes às alucinações auditivas. Tais depoimentos evidenciaram a importância que as intervenções terapêuticas tiveram nas vidas dos usuários, tendo em vista os efeitos positivos que lhes foram proporcionados. Percebe-se, então, que o programa favoreceu tanto a reabilitação psicossocial, o vínculo e o bem-estar – diretrizes preconizadas pela Reforma Psiquiátrica e pela PNH, como conseguiu, também, oferecer um espaço de escuta no qual os usuários puderam se implicar em sua queixa e, assim, provocar mudanças de posições subjetivas, baseadas e orientadas de acordo com a abordagem psicanalítica, além de aumentar o repertório de aprendizagens com a realização de tarefas, princípio dos grupos operativos, mediando, ainda, o processo de consciência corporal, pressuposto da análise bioenergética.

Principal

Joanna Carneiro

joannaac@bol.com.br

Coautores

Joanna Carneiro

A prática foi aplicada em

Salvador

Bahia

Nordeste

Esta prática está vinculada a

Ambulatório e Caps Oswaldo Camargo

Salvador, BA, Brasil

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

Joanna Carneiro

Conta vinculada

12 fev 2016

CADASTRO

24 ago 2024

ATUALIZAÇÃO

Condição da prática

Concluída

Situação da Prática

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