O Dinamismo da Vacinação Covid 19: Encontros, Afetos e Possibilidades

As mudanças acompanhadas na contemporaneidade, no que diz respeito à área da saúde, repercutiram em todos os contextos, a saber, sociais, culturais, sanitários, epidemiológicos, educacionais, políticos, denotando a complexidade do fenômeno vivenciado. Nas propostas de condução do cuidado, oportuniza-se a discussão a partir das lacunas observadas no decorrer do tempo, bem como, nas perspectivas e rupturas consideradas para a atuação profissional, principalmente, construindo um alicerce para os movimentos de alerta na área temática. O objetivo desse trabalho foi construir um relato de experiência acerca da mobilização para a vacinação COVID 19 em um município de médio porte e a sua estruturação para o combate a pandemia. Por meio da mobilização dos profissionais de saúde e gestores o município ficou em primeiro lugar no contexto de imunização do estado do Rio Grande do Sul, entre os municípios com mais de 100 mil habitantes, fenômeno que motivou toda a equipe e olhares ampliados para a governança em saúde. Foi realizada uma estratégia dinâmica com o objetivo de atender o público elegível para vacinação. Inicialmente realizou-se uma estratégia de atendimento domiciliar, vacinação casa a casa e drive thru para vacinação do público acima de 70 anos de idade que estava em isolamento social e requeria uma abordagem diferenciada evitando a circulação deste público extremamente vulnerável a covid 19. Na sequência a fim de atender a expressiva demanda da população adulta jovem e garantir a celeridade do processo de informação das doses de vacina administradas e evitar o desperdício de doses pelo tempo de validade curto de cada frasco, organizou-se uma Central de Vacinação no município, efetivando-se a vacinação, os registros, evitando o desperdício e garantindo o acolhimento adequado do público vacinável. Dessa forma, a campanha de vacinação aconteceu de forma harmoniosa e ágil, sem produzir fragilidades nos trabalhos de rotina oferecidos pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) no dia a dia, tendo em vista que estas unidades foram rapidamente readequadas para garantir o atendimento ao público sintomático respiratório. Ao ser ampliada a vacinação COVID 19 para os grupos de crianças e adolescentes houve a necessidade de retornar os trabalhos de vacinação a espaços exclusivos de salas de vacinação, dada a complexidade da atenção ao calendário de crianças e adolescentes. Neste momento, portanto a vacinação COVID 19 retornou as UBS e a Central de Vacinação foi fechada. Os principais resultados demonstraram uma atuação flexível dos profissionais durante a campanha através da adoção de atitudes dinâmicas frente as demandas que foram surgindo em sintonia com o Programa Nacional de Operacionalização (PNO).

O objetivo do Projeto ImunizaSus é analisar a situação atual e identificar os principais desafios à efetividade da política e das ações de imunização nos territórios municipais em nível nacional, investigando a queda da cobertura vacinal e seus determinantes, com ênfase na hesitação vacinal. A pesquisa também visa realizar um diagnóstico da situação atual das ações de imunização realizadas nos municípios, identificando quais ações são realizadas e a sua frequência, como vacinação de rotina, campanhas, busca ativa, treinamento e atualização de profissionais, registro nos sistemas de informação, monitoramento da cobertura vacinal, entre outras. O município promove o cuidado de forma integral e equitativa, envolvendo especialmente o diálogo. Nesse sentido, no que diz respeito à imunização ocorre um trabalho ampliado que envolve as buscas ativas, lives, mobilização das ações por meio de campanhas e emblemas em saúde (como folders, oficinas, ligações, contato via mensagens, rodas de conversa, rádio local, divulgação pelos ACS, dentre outros). O estabelecimento de mecanismos que assegurem acessibilidade, acolhimento e olhar individualizado em todos os ciclos de vida pressupõe uma lógica de organização e funcionamento do serviço de saúde, que parte do princípio de que a unidade de saúde deve receber e ouvir todas as pessoas que procuram os seus serviços, de modo universal e sem diferenciações excludentes. O serviço de saúde deve se organizar para assumir sua função central de acolher, escutar e oferecer uma resposta positiva, capaz de resolver problemas de saúde e/ou de minorar danos e sofrimentos, ou ainda se responsabilizar com a resposta ainda que ela seja ofertada em outros pontos de atenção da rede. Aqui destaca-se o formato de intervenção a partir da imunização e a proximidade e a capacidade de acolhimento, vinculação e responsabilização frente a cada demanda. O vínculo construído por uma atenção básica de fato resolutiva, humanizada e integral permite o desenvolvimento gradativo da gestão do cuidado dos usuários pelas equipes, nos vários cenários e momentos de cuidado, inclusive quando a continuidade do cuidado requer o encaminhamento para outros pontos de atenção da RAS, momento em que a coordenação da atenção básica é decisiva. Aponta-se a importância da imunização formatada em um padrão que responde às necessidades da população e também dos profissionais, entendendo a complexidade do cuidado e monitoramento das vacinas e os apontamentos voltados para possíveis erros e suas relações com adoecimentos. Quando isso acontece uma equipe preparada da vigilância epidemiológica se desloca aos pontos focais para suprir a principais dúvidas e elucidar o que for necessário, além de fazer os encaminhamentos devidos. Considerando a diversidade e complexidade de situações com as quais a atenção básica lida, há que se ter/construir capacidades de análise e intervenção ampliadas diante das demandas e necessidades para a construção de uma atenção integral e resolutiva, também na imunização. Isso requer a presença de diferentes formações profissionais e um alto grau de articulação entre os profissionais de modo que não só as ações sejam compartilhadas, mas também haja um processo interdisciplinar no qual progressivamente os núcleos de competência profissionais específicos vão enriquecendo o campo comum de competências ampliando, assim, a capacidade de cuidado de toda a equipe.

As mudanças acompanhadas na contemporaneidade, no que diz respeito à área da saúde, repercutiram em todos os contextos, a saber, sociais, culturais, sanitários, epidemiológicos, educacionais, políticos, denotando a complexidade do fenômeno vivenciado. O motivo para a mudança de paradigma sanitário foi o surgimento de um vírus causador de problemas respiratórios na cidade de Wuhan, na China. Esse vírus chamado de novo coronavírus acabou se espalhando pelo mundo, definindo o momento pandêmico, portanto. Nesse contexto, cabe ressaltar que a saúde é um importante aspecto da vida humana. Ao se observar as construções, ao longo dos anos, definições sobre o que é saúde foram construídas e pensadas, logo, a saúde não é só a ausência de alguma doença ou incapacitação, ela engloba o bem-estar físico, psíquico e social, acesso à educação e serviços de saúde, condições de habitação e trabalho, ou seja, ela é um conjunto de condições individuais e coletivas que sofre influência política, social, cultural e ambiental. O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado com o intuito de oferecer em todo o território nacional aos cidadãos brasileiros acesso universal, igualitário e gratuito a programas e serviços de saúde. Desde a criação e implementação do SUS, tem-se desafios com políticas e legislações que regulamentem e organizem o seu funcionamento. Uma das formas de organização de funcionamento do SUS é a Atenção Primária de Saúde (APS). Na APS é onde acontece o primeiro contato das pessoas aos serviços de saúde e que normalmente fica próximo dos locais onde as mesmas moram. Portanto, as pessoas quando necessitarem de atendimento de saúde devem procurar um serviço de saúde mais próximo de sua residência. A APS oferece ações e serviços de proteção, promoção, prevenção da saúde, diagnóstico e tratamento. Para facilitar o processo de trabalho o Ministério da Saúde (MS) institui a Estratégia Saúde da Família (ESF) que faz a aproximação da comunidade aos serviços de saúde com um cuidado por meio de práticas que envolvem toda a equipe multiprofissional. A aproximação entre as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e a população adscrita é feita através de ações e programas de saúde que buscam oferecer linhas de cuidado e proteção da saúde. Além da ESF temos o Programa Nacional de Imunização (PNI), Programa Mais Médicos, dentre outros programas e ações. Nesse sentido, destaca-se o PNI, evidenciando a sua inserção nos serviços de saúde e na vida das populações assistidas. Assim, cabe nesse momento realizar uma descrição do PNI no território de um município de médio porte, adentrando nas possibilidades existentes e nas dificuldades presentes na formulação do Programa. No contexto da pandemia o PNI foi um dos principais programas desenvolvidos nos territórios, salientando que a estratégia epidemiológica fora construída para melhorar o status do processo saúde/doença da população e diminuir os sintomas que levavam à internação, tratamentos complexos e até a mortalidade. Assim, esse município construiu uma rotina própria para que todas as pessoas pudessem acessar o serviço com integralidade e equidade, pensando nas diferenças entre todos que buscavam a estratégia epidemiológica e dialogando a respeito da falta de informação que poderia gerar a hesitação vacinal. Para ampliar o cenário descrito o município desenvolveu, junto aos profissionais, habilidades e competências voltadas para a realidade local, produzindo um território de acolhimento e olhar individualizado junto ao usuário. Para tanto, criaram-se diferentes estratégias orientando as ações de comunicação e mobilização social (Drive thru, vacina em domícilio, Central de Vacinação, imunização em sala de vacinas). Essa estratégia foi efetiva e levou o município a conquistar o primeiro lugar em vacinação no estado do Rio Grande do Sul, fomentando a ideia de se fazer mais e melhor em um espaço dedicado ao tema. Ainda, contava com a contribuição dos acadêmicos do curso de enfermagem da Universidade local, evidenciando a articulação entre ensino e serviço e promovendo um contato mais aproximado com as pessoas e suas necessidades. Os profissionais que atuaram na Campanha de Vacinação apresentavam características de empatia e resolutividade, entendendo que a população poderia buscar muito mais que a técnica vacinal, mas um encontro que pudesse ser ampliado, do ponto de vista integral, uma vez que tínhamos diferentes características em uma mesma família, por exemplo. Para além dessas nuances, os condicionantes e determinantes sociais da saúde eram observados para uma melhoria da experiência local, fator que produzia maior universalidade do acesso e afeto na produção do conhecimento e da técnica. E, sobretudo, as equipes de vacinação acreditavam e defendiam publicamente o uso da vacina frente a pandemia.

Por meio deste relato de experiência pode-se perceber que as ações desenvolvidas na imunização durante a pandemia possibilitaram reconhecimento para as profissões como categorias de “linha de frente”, resolutivas e protagonistas, visto que, tais profissionais estavam encorajados e preparados para dialogar e esclarecer dúvidas que surgiam. Contudo, ao serem construídas reflexões a partir dos contextos selecionados consegue se inferir que a criatividade e inovação das equipes durante a pandemia emergiram como potências e fortalezas, notadamente, sendo evidenciadas por ações políticas e estruturais, como as recentes inovações no campo da imunização. Essas características demonstram que os movimentos históricos alicerçados por conhecimento e cientificidade, podem promover maiores atenções às necessidades dos profissionais como por exemplo: o dimensionamento de pessoal e a reestruturação das escalas de trabalho contemporâneas. As intervenções construídas como estratégias nos processos de trabalho das equipes na APS durante a pandemia destacam as tecnologias em saúde como ancoragem para tomadas de decisão, cuidado longitudinal e busca por acesso ampliado, entendendo que as limitações voltadas para o distanciamento social podem ser superadas. Assim, o presente relato de experiência apresenta um contexto positivo em relação à constituição de ações inovadoras pelas equipes de saúde e permite uma análise próspera em relação ao compromisso das mesmas com as Redes de Atenção à Saúde em todas as suas motivações e fragmentos. Conclui-se que de todos recursos utilizados na campanha de Vacinação COVID 19, o mais importante foi o recurso humano.

Principal

Leila Salete Ibrahim Hofmann

Coautores

Eclesan Ana Palhão , Ana Paula Demarco Esmelindro Zaions , Samuel Salvi Romero

A prática foi aplicada em

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23 dez 2023

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23 dez 2023

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