A experiência teve início no Centro de Testagem e Aconselhamento/Serviço de Atendimento Especializado (CTA/SAE) de Irecê, Bahia, no período de junho de 2023 até o presente momento. O projeto tem como propósito implementar o Cuidado Farmacêutico para otimizar os resultados terapêuticos e promover uma assistência mais qualificada às pessoas que vivem com HIV/AIDS, hepatites virais e HTLV, bem como àquelas que buscam formas de prevenção.
O farmacêutico passou a integrar de forma mais ativa a equipe multidisciplinar, participando das decisões clínicas e contribuindo para um cuidado centrado no paciente. Para isso, foi elaborado um protocolo de cuidado farmacêutico e o profissional foi incorporado como prescritor das profilaxias PEP (pós-exposição ao HIV) e PrEP (pré-exposição). Inicialmente, o foco foi nos pacientes poli medicados, devido à complexidade dos esquemas terapêuticos, sendo posteriormente expandido a todos os usuários da unidade.
Entre as atividades desenvolvidas, destacam-se: consultas farmacêuticas individualizadas com registro em sistema informatizado, avaliações clínicas, prescrição de PEP e PrEP, testagem rápida para HIV, HBV, HCV, sífilis e tuberculose (LF-LAM), além da realização de mais de 40 ações educativas em grupo voltadas à promoção da saúde e prevenção de infecções.
A necessidade de melhorar a qualidade da assistência farmacêutica e terapêutica para pacientes que vivem com HIV/AIDS, hepatites virais e HTLV, atendidos pelo Serviço de Atendimento Especializado em Irecê-BA, a fim de otimizar os resultados clínicos e garantir melhor adesão ao tratamento, com foco em práticas personalizadas de prevenção e mais integradas à equipe de saúde uma vez que o perfil de doença crônica que envolve outras patologias pode gerar interações medicamentosas e falha no tratamento.
Os resultados alcançados em pouco mais de dois anos foram expressivos. Foram registradas 83 consultas farmacêuticas entre junho e dezembro de 2023; 368 atendimentos em 2024; e 642 até agosto de 2025, totalizando mais de 1.000 consultas documentadas nos sistemas IDS e SICLOM. Além disso, foram promovidas mais de 40 atividades educativas, envolvendo mais de 600 participantes, entre pacientes, comunidade e profissionais de saúde.
Houve 180 mudanças de esquemas terapêuticos, com destaque para a simplificação dos tratamentos e a redução de problemas relacionados a medicamentos (PRM), especialmente os de segurança. Observou-se uma melhora substancial na adesão ao tratamento e na continuidade da terapia, bem como uma diminuição nas interrupções prematuras. A satisfação dos usuários com o atendimento farmacêutico aumentou significativamente, evidenciando o impacto positivo da abordagem centrada no paciente.
A procura espontânea pelo serviço farmacêutico também cresceu, resultado do reconhecimento do papel do farmacêutico como educador e promotor da saúde. Entre as principais lições aprendidas destacam-se: a importância da personalização do cuidado, a relevância da integração multiprofissional e o papel essencial da educação em saúde no empoderamento dos pacientes. Também se observou que a adesão terapêutica é fortemente influenciada por fatores socioculturais, como estigma e medo dos efeitos adversos, reforçando a necessidade de estratégias educativas contínuas e acolhedoras.
Recomenda-se a expansão do modelo de Cuidado Farmacêutico a outros serviços do SUS, especialmente na atenção especializada e em contextos de doenças crônicas e infecções transmissíveis.
A inclusão do farmacêutico como prescritor de PEP e PrEP, aliada ao acompanhamento clínico contínuo, mostrou-se estratégica para melhorar adesão, racionalizar o uso de medicamentos e reduzir custos decorrentes de complicações e internações.
Sugere-se institucionalizar práticas de cuidado farmacêutico no SUS, garantindo capacitação permanente e integração efetiva das equipes. Essa iniciativa fortalece a sustentabilidade do sistema, qualifica a atenção em saúde e reafirma o compromisso do SUS com o cuidado humanizado, eficiente e baseado em evidências.
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