Ações Extramuros Como Estratégia para o Aumento das Coberturas Vacinais

O município de Santa Maria localiza-se na região central do estado do Rio Grande do Sul, considerado, de acordo com o IBGE (2022), a 5ª cidade mais populosa do estado. Pertencente a 4ª Coordenadoria Regional de Saúde, é o maior município desta, com uma população estimada de 296.081 habitantes. É conhecida como a “cidade universitária”, devido à alta concentração de estudantes na Universidade Federal de Santa Maria (cerca de 30 mil), e ainda, conta com universidades e faculdades privadas. No âmbito da APS, conta com 33 Unidades Básicas de Saúde em 08 regiões administrativas. Destas, 30 possuem sala de vacina, todas equipadas com câmaras refrigeradas, próprias para imunobiológicos. As ações de imunização ocorrem, no município, em duas modalidades: em sala de vacina e extramuros. As salas de vacina oferecem tal serviço nos turnos da manhã e tarde, durante a semana, na modalidade conhecida como “porta aberta”, ou seja, o acesso é universal, independente do território que o usuário resida. Já as ações extramuros são realizadas em diferentes espaços como escolas, domicílio e em demais espaços públicos com grande circulação de pessoas, como praças, eventos, clubes, shoppings, lojas, etc, além de aderir aos dias de mobilização nacional. Ainda, desde o ano de 2021, as vacinações de rotina e campanha passaram a ser ofertadas em horários estendidos/alternativos: após o horário de funcionamento habitual da unidade de saúde e nos finais de semana. Geralmente, as ações do turno estendido ocorrem a partir das 17:00, cada dia da semana, em uma região do município. Observou- se que essas viabilizaram maior acesso ao público, visto que muitos usuários, devido seus turnos de trabalho, não conseguem frequentar a unidade em horário habitual. Destaca-se que todas as ações ocorrem por meio da parceria entre a Vigilância em Saúde do município, serviços da APS, Núcleo de Educação Permanente em Saúde (NEPES), instituições de ensino do município (nível técnico e superior) e setor de comunicação da Prefeitura Municipal. Dessa forma, com objetivo de planejar a dinâmica e o cronograma de vacinações contra a COVID-19, em 2021, criou-se, por meio de Portaria Municipal, um Grupo de Trabalho, em que representantes de cada um dos serviços supracitados, junto aos gestores da secretaria da saúde, reúnem-se quinzenalmente para pactuar as estratégias de vacinação. Neste espaço de encontro, o grupo busca avaliar locais com maior vulnerabilidade e dificuldade de acesso, bem como, planejar a logística necessária, equipe de trabalho, entre outras demandas referentes aos processos das vacinações, sejam em sala de vacina ou extramuros. No momento, mesmo em um cenário de controle da pandemia por COVID-19, o que refletiu na redução das ações focadas na vacinação contra esta doença, o GT ainda mantém os encontros, com objetivo de dar continuidade na gestão conjunta nas demandas de imunização. Com isso, tornou-se viável a organização e discussão sobre as demais campanhas de vacinação, como a de multivacinação, influenza e poliomielite, bem como, as reuniões do grupo, promovem pactuações e definições sobre a logística das salas de vacina. Entre as estratégias para vacinação desenvolvidas, vale ressaltar a parceria sólida que se construiu com as instituições de ensino, com os cursos na área da saúde, como enfermagem, medicina, odontologia, farmácia, técnico em enfermagem, entre outros. Com isso, o apoio das instituições fortalece diariamente a integração entre ensino e serviço, ao modo que os estudantes, após prévia capacitação sobre os processos em imunização, desenvolvida pelo NEPES, atuam nas ações, supervisionados por profissionais de nível superior. Observa-se que esse trabalho conjunto, contribui com a formação de profissionais críticos, seguros e proativos, bem como, colabora com a qualidade dos atendimentos em vacinação prestados nas ações (equipes maiores, maior agilidade, atenção direta aos usuários). Neste contexto, os processos de trabalho, decorrem, tanto para vacinações na Unidade de saúde, quanto ações extramuros, do trabalho em equipe desenvolvido entre profissionais da Vigilância Epidemiológica – Setor de Imunizações e profissionais das salas de vacina no município. O Setor de Imunizações, que integra a Vigilância Epidemiológica e tem como atribuição o controle e monitoramento da rede de frio, o abastecimento das salas de vacina, com imunizantes da rotina e insumos; educação permanente de profissionais; vigilância de eventos adversos e erros de imunização; organização das vacinação extramuros, entre outros. De tal forma, para que a vacinação chegue à população, ocorre uma logística organizacional, desenvolvida pelos profissionais supracitados. O Procedimento Operacional Padrão – POP, para o atendimento em sala de vacinas, somado às constantes atualizações das notas técnicas do Programa Nacional de Imunizações, conferem o rigor desde o recebimento das doses até a administração da vacina no usuário. Neste sentido, os profissionais das salas de vacina, seguem tais protocolos, para manter o adequado abastecimento e funcionalidade do serviço. Quinzenalmente, as vacinas de rotina são direcionadas às unidades de saúde. Para isso, conta-se com o trabalho dos Agentes de Saúde Pública, do setor de imunizações, que são responsáveis pelo adequado transporte dos imunizantes, até a sala de vacinas. O município é dividido em quatro regiões (quatro rotas de entrega) e mensalmente, este cronograma de entregas é enviado para as unidades de saúde. Para o transporte adequado, o setor de imunizações possui caixas térmicas com termômetro digital, em quantidade suficiente para atender as demandas. Os profissionais de enfermagem do setor, mantém o adequado monitoramento da rede frio e organizam a logística de entrega das vacinas. A rede de frio do município, alocada neste setor, conta com treze (13) câmaras refrigeradas para imunobiológicos, todas com 48 horas de autonomia, para as situações de falta de energia. Também, conta-se com almoxarifado de materiais e insumos no próprio setor, que facilita a organização prévia das ações extramuros. Para as ações extramuros, o setor mantém uma agenda, na busca por manter um cronograma de ações previamente organizado. Com isso, os integrantes da equipe, inteiram-se nos cronogramas, através do Google Drive, espaço onde a agenda semanal das ações é disponibilizada para consulta e edição aos profissionais do setor. Tal ferramenta, viabiliza a facilidade na comunicação efetiva, de modo que, cada um, conforme suas atribuições, inicia o processo organizacional. No que tange às orientações e capacitações prévias a estas ações, busca-se sempre organizar pelo menos um encontro, online ou presencial, com os profissionais envolvidos, onde os informes técnicos são apresentados e as dúvidas esclarecidas. Nas ações para poliomielite, desenvolvidas em escolas, buscou-se orientar previamente os professores. Enviou-se pelo e-mail, documentos norteadores, modelos de autorização escrita para vacinação (pais deveriam assinar), cards e folders explicativos. Posteriormente, a mobilização dos profissionais de saúde ocorre também por meio da ferramenta Google Drive, de modo que as equipes são estruturadas conforme os profissionais se incluem nas listas disponibilizadas. Com isso, diante de capacitação prévia, contato e orientações prévias com escolas e demais locais das ações extramuros, estruturação das equipes e organização dos imunizantes para distribuição, culmina-se no desenvolvimento destas ações. Portanto, Santa Maria, um município populoso e com maior concentração de jovens e adultos, busca utilizar diferentes estratégias na tentativa do aumento das coberturas vacinais. Diante do diálogo e planejamento desenvolvido pelo grupo de trabalho da vacinação, das ações em sala de vacina ou extramuros, somado ao apoio das instituições de ensino, caminha-se em direção à prevenção de doenças, proteção e promoção da saúde dos usuários. Nesse sentido, entende-se que as ações realizadas no âmbito municipal, que almejam a prevenção e controle de doenças transmissíveis, têm logrado êxito.

O ImunizaSUS foi um projeto realizado pelo Conasems e Ministério da Saúde que capacitou mais de 32 mil profissionais de saúde e estudantes de cursos da saúde de todos os estados do país sobre diversas temáticas relacionadas à vacinação. Realizou uma pesquisa inédita sobre coberturas vacinais no Brasil e os prováveis motivos da queda das taxas nos últimos anos. Dentre estes, destaca-se a desinformação, hesitação vacinal, e redução da força de trabalho de enfermagem no SUS. No que tange às fragilidades, a literatura aponta a produção de desinformação sobre vacinas como parte substantiva do problema e se conecta a dimensões contextuais e individuais. Quanto à dimensão contextual, citam-se os aspectos históricos, geográficos, políticos, socioeconômicos, culturais, religiosos e de gênero, assim como a comunicação e mídia, influência de líderes e a percepção sobre a indústria farmacêutica. Quanto às influências individuais, enquadram-se àquelas relacionadas a experiências prévias com vacinação, crenças e atitudes sobre saúde, confiança ao sistema de saúde, vínculo com profissionais de saúde, percepção de risco da vacina e visão da imunização como norma social (SATO, 2018). Se por um lado o acesso às redes sociais podem trazer informação, por outro lado, pode ser uma oportunidade de disseminar informações falsas que vai mobilizando pessoas e comunidades ao conteúdo antivacina. É notório que enfrenta-se no momento, um movimento de nível nacional, de hesitação e recusa à vacinação, situação que piorou de forma significativa na pandemia, de modo a atingir diretamente as crianças, nas quais os pais hesitavam em vacinar. Ademais, a disseminação das fake news a respeito da segurança das vacinas, culminou na redução das coberturas vacinais e no retorno de doenças imunopreveníveis que já não circulavam. Outro desafio enfrentado é o número limitado de profissionais vacinadores no município, uma vez que o profissional de enfermagem, divide-se entre diversas atribuições, como: procedimentos, consultas, acolhimento, vacinação, entre outras. Com isso, nem sempre, é viável que a sala de vacinas esteja aberta todos os dias da semana, ocorrendo uma variação de turnos, em cada unidade de saúde. Desse modo, o ImunizaSUS pode subsidiar o desenvolvimento de novas estratégias em vacinação, qualificar os processos de trabalho e auxiliar na identificação de pontos frágeis e potenciais, nas estratégias até então realizadas.

Entre as estratégias que podem melhorar as coberturas vacinais, destacam-se: Manter e aperfeiçoar as vacinação Extramuros; Manter a oferta da vacinação em turnos Estendidos/alternativos; Ampliar a oferta de treinamento em sala de vacinas; Manter a Comunicação efetiva, por meio do Grupo de Trabalho – GT das vacinações; Manter a exigência do Atestado de vacinação em dia; Campanhas de comunicação; Estabelecimento de parcerias com lideranças comunitárias; e Resiliência contra informações sanitárias equivocadas ou falsas. A vacinação se caracteriza como uma das mais potenciais intervenções em saúde pública, por promover a proteção da saúde da população contra doenças imunopreveníveis. Destaca-se que um dos pontos cruciais ao sucesso do Programa Nacional de Imunizações, relaciona-se com as intensas campanhas de vacinação contra Poliomielite, que na década de 90, possibilitou a erradicação da doença no Brasil. Neste sentido, manter estratégias de vacinação em massa, por meio de ações extramuros, em que é possível captar maior número de pessoas, representa um dos caminhos para o aumento das coberturas vacinais. Ainda, o atendimento em sala de vacinação em horário estendido (após às 17:00) e em turnos alternativos (finais de semana), mostrou-se como ferramenta potencial para o aumento das coberturas vacinais. Observou-se, que a cobertura vacinal da vacina tríplice viral aumentou em 2022 (84,10%), o que demonstra efetividade da ampliação dos horários das salas de vacinas. De tal forma, esta estratégia viabiliza o acesso em horários diferentes do habitual e portanto, poderá ser mantida. Estabeleceu-se um cronograma anual de capacitações e atualizações em sala de vacina, para que todos os profissionais de enfermagem, estejam aptos para o atendimento em imunização. Dessa forma, quando ocorre algum afastamento do profissional vacinador referência ou quando a demanda em vacinação aumenta, as equipes tornam-se fortalecidas e maiores. Além disso, busca-se oferecer capacitações para Agentes comunitários de saúde, profissionais de nível superior que estão cursando a residência multiprofissional, acadêmicos e estagiários da área da saúde. Com isso, embora estes profissionais não atuem diretamente em sala de vacinas, podem multiplicar informações sobre a importância da vacinação, principalmente sobre o calendário vacinal, para as crianças e adolescentes. A comunicação efetiva entre profissionais da Vigilância em Saúde, da APS, gestores, equipes da comunicação da prefeitura municipal e usuários é de significativa relevância. Manter as reuniões quinzenais do GT das vacinações, com posterior multiplicação das pactuações, entre os serviços de saúde do município, contribui para adequada organização das ações extramuros, com a logística funcional das salas de vacina e com a informação correta para a população. Tais encontros, entre os membros do GT, promovem uma gestão conjunta, com tomadas de decisão previamente discutidas e analisadas. Este espaço de discussão, permite identificar as fragilidades e potencialidades dos processos de vacinação realizados no município. Destaca-se, por fim, como ponto importante, o “atestado de vacinação em dia”, documento que o município passou a considerar obrigatório no ato das matrículas nas escolas, de forma a impedir o seguimento da mesma, em caso de não apresentar tal documento. Este, é preenchido pelo vacinador, na sala de vacinas, quando a criança vai até o serviço. Só é fornecido, quando todas as vacinas de rotina foram realizadas, conforme a idade da criança. Observa-se que o município busca, por meio de diferentes formas, atrair maior público para imunização e continuará fortalecendo as estratégias que mostraram-se potenciais. Ainda, é necessário manter o trabalho ativo nas campanhas de vacinação e na insistência diária pelo aumento das coberturas das vacinas do calendário nacional.

Diante de um cenário pós pandemia, contexto que contribuiu para redução das coberturas vacinais, observa-se que a busca pelo sucesso das vacinações é um processo desafiador, uma vez que diversas são as falas negativas relacionadas às vacinas. Por isso, buscar ofertar as vacinas em locais estratégicos, participar de eventos da cidade e manter a oferta diária nas salas de vacina, se consolidam como ferramentas importantes. Manter a informação sempre à disposição da população, também contribui com a comunicação efetiva entre serviço e usuários, quanto à importância de manter em dia as vacinas do calendário, doenças que protegem, entre outros. Os dados relatados neste trabalho, possibilitam refletir sobre as estratégias potenciais, que podem ser mantidas, bem como, permite analisar pontos frágeis que podem ser fortalecidos, como por exemplo os treinamentos regulares em sala de vacinas, na busca por manter o maior número de profissionais aptos à vacinação. Também, fortalecer as estratégias de divulgação de informações, junto a equipe de comunicação, consiste em um meio de multiplicar esclarecimentos e orientações relevantes sobre campanhas vacinais, doenças erradicadas e benefícios gerados pela imunização.

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Amanda Ruiz

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30 ago 2023

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