Desde a implementação do Sistema Único de Saúde, a Atenção Primária tem sido a porta de entrada para o início do cuidado em saúde da população, guiada pelos princípios da universalidade, vínculo, continuidade do cuidado, integralidade, responsabilização, equidade e participação social. Caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, em nível individual e coletivo, que englobam promoção e proteção da saúde, prevenção de doenças, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos e manutenção da saúde, buscando desenvolver uma atenção integral à saúde (1). As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) na Atenção Primária foram integradas para complementar o cuidado já ofertado, com o propósito de melhorar a qualidade e a oferta dos serviços de saúde, promover alternativas para o desenvolvimento sustentável das comunidades e incentivar a participação social e práticas colaborativas. Ao considerar o indivíduo de forma holística, respeitando sua singularidade, as PICS contribuem para a integralidade do cuidado, exigindo interação entre ações e serviços no SUS. Estudos indicam que abordagens das PICS promovem maior corresponsabilidade dos indivíduos por sua saúde, favorecendo um exercício ampliado da cidadania (2). As PICS podem ser realizadas de forma individual ou coletiva, a depender da prática realizada. Ressalta-se que o termo PICS é utilizado no Brasil para se referir às práticas da medicina integrativa e complementar. Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência de implementação e manutenção de um grupo de prática corporal, Lian Gong, em uma unidade básica de saúde de um município do interior de São Paulo.
Como enfermeira na Atenção Primária, prestei assistência a pessoas em todas as fases do ciclo de vida e com diversas condições de saúde, desde casos agudos até várias doenças crônicas. Para usuários com doenças crônicas, a unidade oferecia alguns grupos de acompanhamento, cuidado compartilhado e atendimento individual. Além das consultas médicas e de enfermagem, havia também a oferta de participação em grupos de prática corporal, como o Lian Gong, e, em alguns casos, Auriculoterapia. Ambas as práticas eram utilizadas como auxílio no tratamento de saúde. Na Atenção Primária, alguns grupos são promovidos com finalidades sociais, terapêuticas e de apoio, com o objetivo de compor e qualificar o cuidado em saúde do usuário. Algumas PICS podem ser realizadas em grupo, o que favorece a disseminação da prática, o conhecimento pelos usuários e o compartilhamento de experiências com mais pessoas. Como enfermeira em uma equipe da Estratégia Saúde da Família, uma forma de contribuir para a promoção, prevenção e reabilitação da saúde dos usuários foi a realização da prática de Lian Gong em 18 terapias. Essa prática corporal da medicina chinesa promove a prevenção e o tratamento de doenças musculoesqueléticas e fortalece as funções do coração e dos pulmões. A realização dessa prática em grupo possibilita que os participantes cuidem de sua saúde, além de estabelecer vínculos e redes de apoio, que auxiliam na promoção e na recuperação da saúde. O Lian Gong era ofertado duas vezes por semana, com frequência de 12 a 25 participantes, a maioria mulheres, com alguma doença crônica, como hipertensão arterial, diabetes mellitus, depressão, ansiedade, osteoartrite de joelhos e coluna, entre outras doenças crônicas. Ao longo de 19 anos, a prática foi oferecida de forma contínua, mantendo a frequência de participantes. Observou-se que, ao frequentar esses grupos, as pessoas estabeleciam um vínculo mais efetivo e duradouro com a equipe, além de tenderem a praticar seu autocuidado.
Algumas dificuldades encontradas foram que nem toda a equipe conhecia a prática e conseguia recomendá-la com segurança e confiança. Na unidade, por muitos anos, apenas um profissional tinha formação para realizar o Lian Gong e, durante os períodos de férias ou afastamento, o grupo era suspenso. Como enfermeira, houve também momentos em que a ausência de outro enfermeiro me obrigava a deixar o grupo para priorizar o atendimento individual à população, conforme as demandas do dia. Foi possível minimizar as interrupções nos grupos após capacitar outros profissionais, que ajudaram a manter a atividade. Outra estratégia para ampliar a divulgação e o conhecimento da equipe sobre a prática foi falar sobre o grupo nos espaços de reunião de equipe e encontros gerais, quando chegavam novos profissionais, além de divulgar os grupos em outros espaços coletivos da equipe e da comunidade.
Since the implementation of the Unified Health System, Primary Care has been the gateway to the beginning of health care for the population, guided by the principles of universality, connection, continuity of care, comprehensive care, accountability, equity and social participation. It is characterized by a set of health actions, at the individual and collective levels, which encompass health promotion and protection, disease prevention, diagnosis, treatment, rehabilitation, harm reduction and health maintenance, seeking to develop comprehensive health care (1). Integrative and Complementary Health Practices (ICHP) in Primary Care were integrated to complement the care already provided, with the purpose of improving the quality and provision of health services, promoting alternatives for the sustainable development of communities and encouraging social participation and collaborative practices. By considering the individual in a holistic way, respecting their uniqueness, ICHP contribute to comprehensive health care, requiring interaction between actions and services in the SUS. Studies indicate that ICHP approaches promote greater co-responsibility of individuals for their health, favoring a broader exercise of citizenship(2). ICHP can be performed both individually and collectively, depending on the practice performed. It should be noted that ICHP is the term used in Brazil to refer to the practices of integrative and complementary medicine. This paper aims to report the experience of implementing and maintaining a body practice group, Lian Gong, in a basic health unit in a city in the interior of São Paulo
As a nurse in primary care, I provided care to people in all stages of the life cycle and with various health conditions, from acute cases to several chronic diseases. For users with chronic diseases, the unit offered some group follow-up, shared care and individual care options. In addition to medical and nursing consultations, there was also the offer of participation in body practice groups, Lian Gong, and in some cases, Auriculotherapy. Both practices were used to aid health treatment. In Primary Care, some groups are promoted for social, therapeutic and support purposes, with the aim of composing and improving the health care of the user. Some ICHP can be carried out in groups, which favors the dissemination of the practice, knowledge by the users and sharing of experiences with more people. As a nurse in a Family Health Strategy team, one way of contributing to the promotion, prevention and rehabilitation of the health of the users was to carry out the practice of Lian Gong in 18 therapies. This body practice of Chinese medicine promotes the prevention and treatment of musculoskeletal diseases and strengthens heart and lung functions. Carrying out this practice in a group allows the participants to take care of their health, as well as establish bonds and support networks, which help in the promotion and recovery of health. Lian Gong was offered twice a week, with a frequency of 12 to 25 participants, most of them women, with some chronic disease, such as high blood pressure, diabetes mellitus, depression, anxiety, osteoarthritis of the knees and spine, among other chronic diseases. Over the course of 19 years, the practice was offered continuously, maintaining the frequency of participants. It was noted that by attending these groups, people established a more effective and lasting bond with the team, as well as tended to practice their self-care.
Some difficulties encountered were that not all of the team was familiar with the practice and could safely and confidently recommend this activity. In the unit, for many years, only one professional had the training to perform Lian Gong, so during vacation periods or leave, the group was suspended. As a nurse, there were also times when another nurse was absent, so I had to leave the group to prioritize individual care for the population, according to the demands of the day. We were able to minimize interruptions in the groups after training other professionals, who helped to maintain the activity. Another strategy to improve the team's dissemination and knowledge about the practice was to talk about the group in team meeting spaces and general meetings, when new professionals arrived, and to publicize the groups in other collective spaces for the team and the community.