Vacinação contra covid-19 em Paranaguá: logística e dedicação para salvar vidas

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Paranaguá é um município localizado no litoral do estado do Paraná, na região Sul do Brasil. O município é considerado um importante centro portuário e turístico, tendo como principais atividades o comércio, a pesca e o turismo. O território de Paranaguá possui uma área de cerca de 826 km² e é formado por uma região costeira e áreas de manguezal, além de contar com rios e canais que cortam a cidade. A região é caracterizada por um clima subtropical, com temperaturas amenas no inverno e verões quentes e úmidos. Possui população de cerca de 155.000 habitantes (IBGE 2010). Além disso, a cidade conta com uma infraestrutura adequada em termos de saúde e educação, tendo hospitais e escolas públicas e privadas, além de um aeroporto e um porto que movimenta uma grande quantidade de carga. Assim como a maior parte do território nacional, teve o mês março de 2020 marcado pela chegada da covid-19 em seu território, demandando a tomada de ações emergenciais como a reorganização de seu sistema de saúde, publicidade maçante quanto aos meios de prevenção à doença, criação de barreiras sanitárias, além da edição de leis, decretos e normas sanitárias. Desde o início da pandemia, a população brasileira temeu a covid-19 e seus efeitos devastadores na saúde e economia. A doença se mostrou altamente contagiosa, podendo levar a quadros graves de insuficiência respiratória, além de outras complicações, inclusive o óbito do paciente. Além do temor da doença em si, ocorreu a sobrecarga de demanda aos serviços de saúde devido ao repentino e exponencial aumento da demanda. Após quase um ano de efetivo e incessante combate à proliferação da doença, surgiu no cenário mundial um raio de esperança com as notícias acerca da evolução dos estudos sobre as primeiras vacinas efetivas contra o vírus SARS-CoV-2, causador da infecção respiratória representada pela COVID-19. A vacinação contra a COVID-19 no Brasil teve início em janeiro de 2021, após a aprovação emergencial das vacinas CoronaVac e AstraZeneca/Oxford pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em Paranaguá, a campanha de vacinação contra a covid-19 começou em janeiro de 2021, com a recepção de um número extremamente limitado de doses da vacina, determinando a adoção de uma estratégia de vacinação gradual, de acordo com a disponibilização do imunizante por parte do Governo Federal. As primeiras doses foram administradas em profissionais de saúde da linha de frente e idosos acolhidos em Instituições de Longa Permanência para Idosos – ILPI. Com a posterior e recorrente disponibilização de novos lotes da vacina, assim como diante do imensurável apelo da população para vacinação, diante do cenário de temor criado pela pandemia de covid-19, limitado às restrições impostas pelo Programa Nacional de Imunização (PNI), o município de Paranaguá desenvolveu estratégia própria para que a vacinação de sua população se desse de forma mais rápida e organizada possível. A analise do contexto de vacinação contra covid-19 no município de Paranaguá, pode contribuir para reflexão quanto à capacidade responsiva de imunização pelo Sistema Único de Saúde – SUS, frente à situações anormais e inesperadas, que demandem a vacinação massiva da população em um curto espaço de tempo, com recursos limitados e insuficientes para fazer frente à equação de oferta e procura, determinando a atuação inovadora e criativa do gestor público para garantir o não perecimento de direitos.

Com a aprovação emergencial das vacinas, a esperança sobre o fim da pandemia cresceu. A população passou a acreditar que a vacinação seria a solução para controlar a disseminação da doença e permitir a retomada da vida normal. Embora a vacinação contra a covid-19 em Paranaguá tenha se efetivado desde o primeiro momento de disponibilização do imunizante, ainda existiam alguns desafios e problemas que precisavam ser enfrentados para garantir que a campanha fosse efetiva e alcançasse todos os grupos prioritários e população em geral. Dentre os problemas e desafios enfrentados, sobressaíam-se: disponibilidade de vacinas: uma das principais preocupações foi a disponibilidade de vacinas. Tratando-se de imunizante importado, extremamente demandado em todo o mundo, cuja disponibilização recepção em território nacional se deu pelo Ministério da Saúde que realizava a divisão das doses disponíveis entre os estados, e estes por sua vez, realizava a subdivisão entre os municípios. Embora o município estivesse recebendo remessas regulares de doses, as mesmas mostravam-se insuficiente para imunização de toda a população. Demanda superior à oferta: tendo em vista o cenário pandêmico e a esperança depositada quanto à vacina, a demanda inicial pelo imunizante era muito superior à sua oferta, o que determinava a seletividade na sua distribuição. Ausência de estrutura do SUS: Concomitantemente à vacinação, ainda persistiam todas as demais demandas do SUS, agravadas pela Pandemia de covid-19, inexistindo, assim, tanto estrutura física quanto de recursos humanos diretamente ligados ao SUS em nível municipal para atendimento eficiente da demanda de imunização. Falta de informações claras e resistência à vacinação: devido a tratar-se de um imunizante novo, desenvolvido em tempo recorde, surgiam diariamente, principalmente por meio das redes sociais, diversas manifestações antivacinação ou fake news, levando um grande número de pessoas à recusar a vacinação ou à ficarem receosas quanto à sua eficácia e efeitos colaterais. Necessidade de monitoramento: necessidade de monitorar os efeitos da vacinação e garantir que a campanha esteja alcançando seus objetivos, especialmente em termos de proteção dos grupos prioritários. Para enfrentar esses problemas e desafios, foi necessária uma abordagem abrangente que inclua esforços para garantir a disponibilidade de vacinas, melhorar a comunicação com a população, logística para aumentar o acesso aos locais de vacinação, aumentar a confiança na vacinação e monitorar os efeitos da campanha.

O município de Paranaguá seguiu o plano nacional de imunização, que prioriza grupos específicos de acordo com critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Desde o início, a cidade apresentou um bom desempenho na campanha de vacinação, se empenhando em ampliar o acesso à vacinação, inclusive com o reforço das campanhas de vacinação, centralização e facilitação de acesso ao local de vacinação. Para enfrentamento dos principais problemas e desafios impostos à vacinação contra covid-19, o município adotou uma série de estratégias e ações para maior visibilidade, eficiência e eficácia na imunização. Após a recepção das primeiras doses da vacina, destinadas aos profissionais de linha de frente e idosos acolhidos em ILPI, começaram a ser recebidos os lotes destinados à população, primeiramente àqueles considerados como Grupo de Risco, após à população em geral, dividido por faixa etária. Considerando a sobrecarga dos serviços de saúde, devido especialmente à necessidade de manutenção dos atendimentos da atenção básica, o atendimento a casos leves e moderados de covid-19 pelo Município, a redução do número de profissionais de saúde devido à pertencerem ao grupo de risco o ao afastamento por terem contraído covid-19, não se mostrava viável a absorção da demanda da imunização pela estrutura até então existente. Devido a isso, o gestor público, avaliando as opções disponíveis, assim como já o fizera anteriormente (art. 3º do Decreto Municipal nº 1922/2020), disponibilizou ao SUS estrutura física e Recursos Humanos pertencentes à outras pastas da Prefeitura para auxiliar na boa execução da nova demanda que se apresentava, criando assim um novo ponto de serviço dedicado exclusivamente à imunização contra a covid-19.

Ferroviária o fluxo para atendimento de pedestres, sendo na avenida estabelecido drive thru para vacinação de 1ª e 2ª doses: Para atendimento à pedestres, foi estabelecido fluxo com recepção da população, fila de espera, cadastramento e assinatura do termo de responsabilidade, fila de espera para vacinação e vacinação. O numero de pessoas diretamente variava conforme disponibilidade de doses, indo de cerca de 20 para os períodos em que apenas as segundas doses estavam disponíveis, para mais de 100 pessoas nos mutirões de vacinação. Com a evolução da vacinação, a estrutura idealizada pelo Município de Paranaguá ganhou reconhecimento. Em 09/04/2021 o Diretor da 1ª Regional de Saúde do Paraná conheceu a estrutura e a logística desenvolvida por Paranaguá. Na ocasião destacou: “Parabéns a todos os envolvidos que de forma exemplar organizaram o fluxo de atendimento com agilidade no atendimento, segurança para evitar aglomerações e um cuidado técnico bastante interessante com a padronização da equipe que está trabalhando. Fico muito feliz e como o município, também ficamos na expectativa de chegada de mais doses para imunização da população. A estrutura e logística estabelecidas, por vezes, dava conta em um único dia da aplicação da totalidade dos lotes de vacina destinados ao município . Com a chegada semanal de novos lotes de vacina e divulgação massiva de incentivo à imunização, aos poucos via-se o cenário pandêmico se modificando. Mas, se antes o medo da morte, rondava, agora a esperança de vida ganha um novo significado, como confirmam vários outros cidadãos de Paranaguá que também são exemplos do que acontece no mundo todo”. Para reforçar ainda mais a campanha de vacinação, foram organizados mutirões de vacinação para aplicação imediata do imunizante após sua chegada ao município. Por vezes, a chegada ocorria ao final do expediente normal, ocasiões em que eram acionados mutirões noturnos, denominados Corujão, com atendimento realizado desde o momento da chegada do imunizante até seu fim, ou até a madrugada, quando cessava a procura . Numa análise realizada pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Paraná, o município de Paranaguá obteve o 1º lugar entre as cidades com mais de cem mil habitantes, com índice de alimentação positiva e atualizada com 94,54% das vacinas recebidas já realizadas até aquele momento . Ainda, Paranaguá é a primeira cidade do Brasil a garantir 100% da vacinação dos profissionais da Educação da rede pública . Com a chegada de novos e maiores lotes de vacina, os números de pessoas imunizadas proporcionalmente aumentavam, juntamente com a eficiência na vacinação. De 28 a 30 de maio de 2021 foram aplicadas 9.420 primeiras doses , demostrando uma capacidade instalada de vacinação de cerca de mais de 3 mil pessoas por dia, o que representa cerca de 2% da população do município. Já no dia 04 de junho de 2021, foram aplicadas 4560 em 9 horas de mutirão , ou o equivalente a cerca de 3% de sua população. Ainda na primeira quinzena de junho, o Município aplicou mais 4 mil doses no dia 8 . Com o objetivo de atingir o maior número de pessoas possível, imediatamente após a percepção da redução do número de pessoas buscando a vacinação, promovia-se a redução da faixa etária da vacinação, o que acabou rendendo também diversos memes divertidos nas redes sociais enaltecendo as ações do município, demonstrando a satisfação da população com a logística aplicada. A vacinação na estação ferroviária de paranaguá, iniciada em 05 de fevereiro de 2021, lhe rendeu o carinhoso apelido de “Estação da Esperança”, mantendo as atividades até da data de 4 de abril de 2022, com a realização de evento de encerramento contou com a presença dos profissionais servidores que trabalharam nas ações como corujões, drive thru, forças tarefas, entre outras atividades em proteção à população contra a covid-19, o qual foi marcado pela assinatura da Portaria nº 4653/2022 que homenageia referidos servidores municipais pela eficiência no desempenho do exercício funcional. Com a desmobilização de toda a estrutura montada para a vacinação contra covid-19 na Estação Ferroviária, foi promovida a descentralização das ações de vacinação para as Unidades Básicas de Saúde do Município e também para postos de vacinação montados em pontos estratégicos da cidade.

Foi possível identificar que a vacinação contra a covid-19 foi um grande desafio para o município de Paranaguá, o qual, diante do cenário colocado, com inovação, criatividade, coragem e perseverança, conseguiu transpor todas as adversidades que se apresentaram, criando um centro de vacinação com capacidade de processamento diário de cerca de 3% de sua população, o que possibilitaria em tese a imunização de toda a sua população em cerca de um mês, não fosse a restrição do numero de doses fornecidas, a qual não estava sob controle do ente municipal. Atribui-se ainda o êxito das ações de imunização, ao menos em parte, ao anseio de toda a população em se imunizar, o que gerou a busca espontânea pela vacina, sendo esta corroborada com as diversas ações de conscientização desenvolvidas no período pelas três esferas do governo. Tal fato, no entanto, não diminui a importância das ações desenvolvidas pelo município, mas sim, corrobora com a demonstração de eficiência do trabalho realizado, por meio do qual prontamente se disponibilizou à população a totalidades das doses de vacina recebidas, obedecidas as quotas estabelecidas pela Secretaria de Estado de Saúde. Conclui-se assim, que, mesmo o SUS não estando preparado para suportar demandas exponenciais como a observada na vacinação contra a covid-19, o gestor público, mediante seu poder/dever possui capacidade de suplementar as ações auxiliares com o objetivo de melhor utilização dos profissionais técnicos, aumentando também exponencialmente a capacidades de resposta do poder público.

Principal

Micaela Gois Boechat Boaventura

Coautores

Micaela Gois Boechat Boaventura

A prática foi aplicada em

Paranaguá

Paraná

Sul

Esta prática está vinculada a

Projeto ImunizaSUS

Paranaguá, PR, Brasil

Uma organização do tipo

Instituição Pública

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Conta vinculada

30 ago 2023

CADASTRO

01 set 2024

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Condição da prática

Concluída

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