Saúde indígena e a atenção básica: a psicologia em intersecção com os saberes indígenas

Sabe-se que os povos indígenas são os povos originários do extenso território que após a colonização foi nomeado como Brasil. A história desse território é marcada pela violência da população colonizadora aos povos originários, e posteriormente à população negra escravizada, resultando em cicatrizes simbólicas perceptíveis em níveis estruturais, institucionais e individuais. Assim, torna-se necessário uma atenção reforçada por parte das instituições para com as populações indígenas, devido a intensa violência que sofreram e ainda sofrem no país, colocando esses povos em situações de vulnerabilidade. Esta é a dívida que o país tem com seus povos originários. Segundo dados do Censo de 2022, a população indígena no Brasil ultrapassou a quantidade de um milhão de habitantes, estando a maioria localizada no Norte do país. No Amapá, encontram-se 9 (nove) etnias indígenas. São elas: Karipuna, Palikur, Galibi Manrworno, Galibi Kalinã, Apalay, Waiana, Tiriyó, Kaxuyana e Waiãpi. Nota-se uma migração de alguns membros indígenas de etnia Waiãpi para a capital Macapá, principalmente no bairro do Brasil Novo, com um alto índice de suicídio, tentativa de suicídio e/ou ideações suicidas, além de outros problemas de saúde decorrentes do contato com as populações não indígenas. Diante disso, é necessário que haja um cuidado por parte dos dispositivos, principalmente os que estão na ponta, para com essas populações.

OBJETIVO GERAL: Descrever a Implementação da Unidade Básica de Saúde Brasil Novo como centro de referência à saúde mental da população indígena.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
• Fazer parcerias com líderes indígenas;
• Capacitar profissionais de várias áreas da saúde para trabalhar com povos indígenas;
• Construir, a partir dos saberes indígenas, possibilidades de promoção de saúde mental.

Foram desenvolvidas ações e atividades individuais e coletivas em associação com as Equipes Saúde da Família (ESF) da UBS, observou-se a predominância dos membros do grupo Wajãpi nesse território, assim caracterizados: 35 prontuários indígenas ativos e em atendimento vinculados a UBS, sendo 65% do sexo feminino e 35% do sexo masculino. A faixa etária corresponde respectivamente a 6% de idade entre 0 a 6 anos; 9% de 7 a 10 anos; 34% de 11 a 19 anos e 51% de 20 a 59 anos, não há registros no PEC de atendimento a indígenas maiores de 60 anos. A partir desse contato, executaram-se entrevistas não estruturadas, nas quais percebemos que a saúde e a educação foram os principais motivos para o deslocamento desta etnia para a capital Macapá. Esses dois motivos são indissociáveis, pois a formação profissional na área da saúde traz a garantia da assistência dentro das aldeias, diante da possibilidade de retorno ao seu território, interseccionando com seus saberes. A maioria dos membros Wajãpi atendidos não falam português, somente a língua materna, e os profissionais tampouco compreendem a língua dos Wajãpi. No momento os encontros continuam na fase de aproximação e diálogo com os grupos que estão no território da UBS, no entanto, a cada contato o vínculo e os saberes vão se confluindo.

Percebe-se diante do trabalho aqui exposto que a construção de um saber psicológico em intersecção com as populações indígenas continua funcionando lentamente, mas com avanços no que tange à construção de um dispositivo feito por muitas mãos, indígenas e não indígenas. A dificuldade de comunicação entre os membros Wajãpi e a equipe de saúde dificulta os processos de atendimento. Desse modo, os profissionais precisam estar atentos às especificidades de cada grupo, necessitando de capacitação contínua, assim como os laços já estabelecidos precisam ser potencializados para que cada vez mais os saberes possam ser confluenciados. Ainda se encontram muitos obstáculos, entre eles a cultura e a própria preparação dos profissionais em relação às cosmologias indígenas e suas formas de cuidado. É sempre importante lembrar que cada etnia se relaciona de forma diferente frente a sua realidade, ou seja, cada povo tem uma percepção divergente frente ao universo e a natureza. Com os Wajãpi não é diferente, inclusive existindo diferenças de saberes entre os diferentes grupos da etnia Wajãpi. Desse modo, o trabalho com os povos Wajãpi se tornam ainda mais complexos frente a essa pluralidade de conhecimento. É evidente que essa finalidade ainda amadurece, no entanto, já existe e pulsa para o trabalho continuar a viver e ser construído. Posto isso, o trabalho realizado busca a cada encontro construir com os membros do grupo Wajãpi um vínculo para a relação ser feita com os saberes indígenas.

Principal

Gabriel Avelar Teixeira

Coautores

Gabriel Avelar Teixeira

A prática foi aplicada em

Macapá

Amapá

Norte

Esta prática está vinculada a

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

Monique Melo Gomes

Conta vinculada

25 set 2024

CADASTRO

25 set 2024

ATUALIZAÇÃO

Condição da prática

Concluída

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