- Atenção Primária à Saúde
Mateus Emanuel da Silva Santos
- 22 maio 2024
O câncer de mama (CM), no Brasil, é o mais frequente entre as mulheres, com a mais alta incidência (29,7%) em 2020 e maior mortalidade (16,4%) em 2019 (MS, 2021). O país encontra desafios como fatores comportamentais, barreiras socioculturais e dificuldades de acesso a serviços de saúde para detecção precoce, elucidação diagnóstica e tratamento. Dentre as referências do combate ao CM, preconizam-se ações de promoção, prevenção, detecção precoce, tratamento oportuno e cuidados paliativos integrados e continuados pelos serviços da rede primária de saúde. Serviços estes que podem ser exemplos da assistência na Atenção Primária à Saúde (APS) pelas equipes de Saúde da Família (eSF). Na tentativa de driblar estes desafios, o município de Quissamã (RJ), que tem cobertura de Saúde da Família (SF) de 95,93% da população, criou a estratégia de estreitamento da APS à atenção secundária (AS) especializada da mastologia a fim de garantir um olhar mais atento dos riscos do CM e viabilizar o acesso às mulheres em situação de vulnerabilidade para o CM. Trata-se de um relato de experiência dividido em dois momentos para educação permanente com teoria e prática. O primeiro momento iniciou com a prática das enfermeiras das eSFs divididas por escala acompanhando a mastologista em consultas no Centro de Especialidades (CE) aos sábados em período integral. Nestas consultas, a especialista relembrou a técnica correta do exame clínico das mamas a fim de se ter um olhar mais atento para os sinais e sintomas relatados pelas mulheres que são atendidas. Após todas as enfermeiras terem participado deste ciclo, foi estabelecido um encontro para explanação teórica do rastreio e controle do câncer de mama. Nesta segunda etapa, houve participação também de representantes da central de marcação de exames. Foi possível ampliar a discussão para a navegação das pacientes em risco de CM a fim de garantir o acesso organizado, hierarquizado e integral. Estabeleceu-se que as mulheres atendidas na APS fossem encaminhadas com a guia de referência classificada com cores vermelha, amarela ou verde para que na central de marcação de exames fosse compreendido o grau de gravidade do encaminhamento. Com isto, a agenda da mastologista pôde ser organizada de acordo com esta classificação e aumentar o acesso a quem mais necessita em menor tempo de espera. Os exames de imagens seguiram a mesma lógica e a partir de então, aqueles que necessitam de maior agilidade são classificadas como vermelho ou amarelo e são agendados com tempo hábil.
A estratégia de prestar um cuidado mais coordenado e minimizar barreiras de acesso entre os níveis assistenciais no município de Quissamã tem sido possível através da integração entre os níveis de atenção e a gestão do cuidado das eSFs. Além disso, a proposta estabelecida contribuiu para que a APS assumisse a responsabilidade de coordenar o cuidado e o percurso terapêutico do usuário, visto que as enfermeiras e os médicos que atuam nas eSFs do município solicitam os exames de rotina para o rastreamento do CM e foram sensibilizados através da proposta de educação permanente. Com a garantia de acesso do público-alvo a APS, atendimento qualificado dos profissionais, solicitação e realização de exames, navegação do usuário de forma responsável na rede de saúde através de uma classificação por gravidade o município pode se organizar para garantir o diagnóstico precoce do CM. Para isto, é condição sine qua non que o trabalho em saúde seja avaliado continuamente.
Rua Conde de Araruama, 425 - Centro, Quissamã - RJ, Brasil
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