- Atenção Primária à Saúde
Dyckson Renny Hage Ramos
- 21 set 2024
Amapá
O Hospital da Criança e do Adolescente (HCA) é um hospital de grande porte, localizado no município de Macapá, estado do Amapá, onde o acesso se dá apenas por via aérea ou fluvial. Conforme último censo de 2022, abriga a maior parte da população, composto por 442.933 pessoas concentrados em área urbana. Localiza-se na região sudeste do estado estendendo-se da margem esquerda do rio Amazonas até a nascente do rio Maruanum. É a única capital brasileira cortada pela Linha do Equador.
O HCA é referência estadual, atende à demanda de todo o estado, bem como demandas das ilhas do Pará e rede privada. Recebe a clientela de 29 dias a 17 anos, 11 meses e 29 dias. Possui 255 leitos de internação, distribuídos em 173 leitos de clínica pediátrica, 38 leitos de Tratamento Intensivo Pediátrico tipo II, 25 leitos no Pronto Atendimento Infantil, 08 leitos de clínica cirúrgica, 08 de Unidade de Cuidados de Longa Permanência e 03 leitos de clínica ortopédica.
O aumento do número de casos de sarampo na cidade no período de janeiro a maio ano de 2021, obteve 320 casos confirmados, uma das estratégias de vacinação propostas pela Superintendência de Vigilância em Saúde e Organização Pan-Americana da Saúde foi a implantação de uma sala de vacina no HCA temporariamente para realizar bloqueios vacinais e combater a circulação do vírus, realizando busca ativa e aplicação da vacina Tríplice Viral em crianças, acompanhantes e trabalhadores da saúde.
Entretanto, após o surto de Sarampo, observou-se cartões desatualizados de outras vacinas. Para realizar o acompanhamento e atualização dos cartões, a sala de vacina adquiriu espaço permanente e independente no hospital, dando continuidade nas ações, realizando todas as vacinas de rotina e imunobiológicos especiais. Os objetivos foram possibilitar a vacinação para crianças que apresentam dificuldades de acesso, prevenir a circulação e disseminação de doenças em abrangência hospitalar e contribuir para aumento da cobertura vacinal no município.
a) Falta da comprovação dos cartões de vacina: em uma emergência é compreensível que os pais esqueçam de levar todos os documentos, incluindo a caderneta da criança. A justificativa é que não “deu tempo” de levar, ou essa criança não possui cartão porque foi danificado ou perdeu.
b) Resistência em vacinar a criança por parte de responsáveis: Após a pandemia e a chegada das vacinas contra COVID-19, apesar de sua importância, emergiu uma hesitação às vacinas. Em alguns momentos, a população está associando eventos adversos a vacina contra a COVID. Percebe-se movimentos antivacinas no hospital, o que prejudica a aplicação e atualização da caderneta da criança quanto do acompanhante.
c) Utilização equivocada do cartão de vacina como documento para entrada no hospital: Após a pandemia a população adquiriu o hábito de ter a carteira de vacinação como documento, apresentando-o em órgãos públicos ou de saúde. Para esses órgãos o objetivo é reduzir a circulação do vírus. Tal estratégia, torna-se um problema enfrentado na entrada e fluxo de acompanhantes, especialmente quando não se tem comprovação vacinal contra COVID-19.
d) Não autorização médica para vacinar: Apesar dos profissionais médicos reconhecerem a importância da vacinação, não há consenso a decisão de vacinar no ambiente hospitalar. Após levantamento da situação vacinal da criança é informado a equipe médica para autorizar a vacina, porém uma minoria dos médicos dá o retorno e autorização.
e) Espaço adaptado para sala de vacina: objetivo era atender situação emergencial de surto de Sarampo no estado, entretanto com aumento da demanda, há necessidade de melhorar o espaço.
f) Falta de publicações científicas: o ambiente hospitalar encontra-se crianças vulneráveis com diversos tipos de doenças, em tratamento medicamentoso, procedimentos invasivos, longa permanência que nunca deixaram o hospital ou até mesmo abandonados. Por que não proporcionar para essas crianças a oportunidade de atualizar o cartão vacinal?
A sala de vacina do HCA funciona desde julho de 2021, adaptada tanto quanto ao espaço físico quanto mobiliários. No que tange aos recursos humanos, desde que iniciou os atendimentos de vacinação em ambiente hospitalar, foi solicitado o aumento da equipe da sala de vacina, hoje conta com um enfermeiro e um técnico de enfermagem por turno, atendimento ocorre das 08 às 18h, segunda a sexta.
O público-alvo atendido são crianças internadas ou em observação; seus acompanhantes ou responsáveis; e os trabalhadores da saúde. Foi criado diversas estratégias para divulgar o serviço, disponibilizar o cartão de vacina e atualização para os usuários. Como resultados, as estratégias desenvolvidas foram descritas de maneira detalhada, o que atende aos objetivos propostos pela sala de vacina:
1) Busca ativa: realizada todos os dias, tanto nos setores administrativos quanto assistenciais, avaliando cartões de vacina e encaminhando as pessoas para atualização na sala de vacina;
2) Análise da situação vacinal por meio do cartão de vacina: Após identificação do usuário pela sala de vacina, é solicitado avaliação e autorização médica para vacinação antes da alta hospitalar ou durante a internação, preservando o risco e benefício da imunização com o consentimento médico durante o processo;
3) Visita diária no ambiente hospitalar: após a busca ativa, é selecionado os pacientes que possuem o maior tempo de internação; maior número de pendências vacinais; necessidade de vacinas especiais; ribeirinhas ou de áreas distantes; e o que a equipe achar necessário. Após avaliação é feito o acompanhamento dessas crianças diariamente aguardando a oportunidade para vacinação com consentimento médico;
4) Parcerias com outros setores do hospital: o Núcleo Hospitalar de Epidemiologia, estes acionam a equipe da sala de vacina em casos de crianças com doenças imunopreveníveis para realizações de ações de bloqueio vacinal. Setor de Recursos Humanos e Núcleo de Saúde do Trabalhador, realizam encaminhamento dos trabalhadores;
5) Questionário pré-vacinal: Aplicada uma ficha de avaliação da situação vacinal, identificando possíveis contraindicações para garantir a segurança e integridade do paciente.
As ações foram se intensificando e revelando melhores resultados, fazendo uma comparação entre os anos de 2021, 2022 e 2023, observa-se um o aumento de cartões avaliados, crianças vacinadas devido a melhora da adesão médica e aumento de doses aplicadas em trabalhadores da saúde.
Uma sala de vacina em ambiente hospitalar é algo desafiador e inovador, para muitos, por ser uma ação de saúde preventiva entende-se que deve ser de competência somente da Atenção Primária em Saúde, porém, as estatísticas revelam a fragilidade nas coberturas vacinais e a dificuldade de atingir as metas.
Acredita-se que as ações realizadas no HCA por ser referência não apenas do estado, mas atende população infantil vulnerável de localidades longínquos, ribeirinhas, indígenas e quilombolas, moradoras de abrigo, com doenças crônicas que mantem tempo maior de internação, que possuem dificuldade em manter o cartão de vacina atualizado em tempo hábil de acordo com a faixa etária, ocasionando até em perda de doses. Nesse sentido torna-se uma grande estratégia de vacinação para atender estas crianças na faixa etária da primeira infância.
A sala de vacina em ambiente hospitalar, especificamente em pediatrias é de extrema importância para saúde pública, por meio dela, é possível fornecer vacinação para crianças que tem dificuldades de acesso ou falta de oportunidades de atualização vacinal e até mesmo o trabalhador da saúde com se mantém exposto e precisa estar em dia com suas vacinas para proteger a população.
A ideia é que todas as pediatrias implementassem uma sala de vacina que contenham vacinas de rotina, ou mesmo ter vacinas do CRIE, proporcionando uma vacinação em tempo hábil e antes da alta hospitalar, assim contribuindo para o resgate das altas coberturas vacinais no Brasil.
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