Essa iniciativa pressupõe a implementação de técnicas expressivas em trabalho de grupo com os usuários. As técnicas expressivas são tidas como importantes ferramentas no contexto psicoterapêutico e desempenham um papel significativo no apoio psicológico, na medida em que permitem que os sujeitos expressem emoções, pensamentos e vivências de maneira não verbal ou criativa, além de promoverem a sua auto expressão e auxiliarem na compreensão e resolução de suas questões emocionais. Nesse sentido, tais técnicas podem complementar as abordagens psicoterapêuticas tradicionais, apesar de não as substituírem. Vale lembrar que abordagens que utilizam técnicas como desenho, pintura, escultura, colagem, músicas, poesias, contos ou estórias podem facilitar o contato do sujeito com suas questões emocionais por meio de um viés criativo e isso se torna particularmente relevante no contexto da APS.
Verdadeiramente, essas abordagens são recursos terapêuticos que fortalecem o cuidado na APS no sentido de que seu objetivo geral é o de prevenir agravos, promover e recuperar a saúde, o que pode não só contribuir para ampliar a percepção da população no tocante à autonomia e ao autocuidado, como também reduzir sintomas presentes em quadros como os de ansiedade, depressão, estresse, traumas, podendo vir a auxiliar na redução do uso de medicamentos e melhorando a percepção do usuário a respeito de sua qualidade de vida.

É importante frisar que a grande demanda por atendimento psicológico nas unidades básicas de saúde (UBS) é uma realidade constatada na maior parte do território nacional desde a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Neste sentido, os trabalhos em grupo ganham relevância na atenção básica (APS) porque, além de propiciar uma maior amplitude de atendimentos e de contribuir para a aproximação entre usuários e profissionais de saúde ao dividirem um mesmo espaço, interesse e linguajar, os grupos também favorecem a articulação das ações preventivas, promotoras, curativas e reabilitadoras. Sob esse ponto de vista, propomos a utilização de técnicas expressivas em grupo no intuito de mediar o contato dos usuários com conteúdos emocionais, o que nem sempre é acessível pelo próprio usuário. Essa iniciativa pode contribuir para a ampliação da carteira de cuidados ofertados pelo CSEGSF ao buscar aumentar a resolutividade clínica a partir do incremento da rede de cuidado, bem como auxiliar na sustentabilidade do financiamento da APS ao investir na utilização de técnicas de baixo custo e fundamentadas em tecnologias leves.

O projeto “cuidando das emoções” teve como resultado a realização de sete (7) encontros presenciais, quinzenalmente, com duração de 180 minutos (2 horas e 30 minutos) cada. Nesses encontros, que tiveram a participação média de 6 usuários, todos adultos e mulheres moradoras do território assistido pelas equipes de saúde da família do CSEGSF, foi possível desenvolver diversas atividades expressivas utilizando técnicas como desenho, pintura, colagem e escultura, bem como contação de estória.
Em nosso entendimento, o desenvolvimento de um tema específico em cada encontro, viabilizou o movimento de reflexão dos usuários e, com ele, o acesso a estados emocionais que não eram, ou tinham poucas possibilidades, de ser vivenciados no cotidiano dos usuários, o que exerceu um efeito benéfico imediato na qualidade de vida individual e parece ter exercido um efeito tranquilizador a médio prazo em parte dos participantes.
Todos os encontros seguiram um cronograma previamente desenvolvido de acordo com o tema e a técnica expressiva apropriada. Isso possibilitou a produção de uma cartilha contendo o roteiro detalhado de cada encontro, contendo todo o material necessário, a infraestrutura e os procedimentos desenvolvidos antes, durante e após a aplicação das técnicas expressivas.
Vale ainda ressaltar que houve a documentação em vídeo de alguns dos encontros, o que gerou um vídeo de divulgação dessa iniciativa que, ao final e após se ter recolhido os devidos consentimentos de uso de imagem e áudio de cada um dos participantes, tem como fim a propagação em mídia digital pelos canais oficinais do Ministério da Saúde.
Por esse conjunto, pensamos como inovador nossos resultados tendo em consideração que a inovação em saúde envolve, entre outros aspectos, a introdução de novas rotinas e formas de trabalho que almejam a melhora da saúde e da experiência do usuário na relação com os dispositivos de saúde. Não só esses aspectos, mas também a possibilidade de divulgação de tais processos nos meios oficiais do Ministério da Saúde.

Nossa proposta de trabalho com técnicas expressivas leva em conta a possibilidade de sua reprodutibilidade em vários dispositivos de saúde que compõem a estrutura da APS tanto no território de Manguinhos, no campus da FIOCRUZ, como em outros dispositivos de saúde. De fato, as abordagens expressivas têm a característica de serem versáteis e poderem ser adaptadas de acordo com o espaço disponível para sua implementação, a preferência e personalidade dos usuários. Como as técnicas expressivas que se propõe aplicar com esse projeto são basicamente aquelas envolvendo trabalhos manuais e recursos audiovisuais e que incluem desenho, pintura, escultura, dobradura, leitura e recitação de textos, letras de músicas, poemas e afins, bem como o diálogo a partir de filmes ou animações, deduz-se que um espaço para atendimento em grupo com mobiliário e recursos audiovisuais adequados somado à aquisição de um número suficiente e estimado de kits de material como lápis, giz de cera, massa de modelar, argila, papel A4 e A3, cartolinas diversas, tintas guache, aquarelas, pincéis e borrachas é o suficiente para a execução do projeto assim como para sua reprodução em outros dispositivos de saúde. Em todo caso, e na nossa concepção, os recursos materiais poderão variar em quantidade e variedade naqueles locais em que for adotado, todavia o papel do facilitador (preferencialmente um psicólogo ou profissional de saúde mental) deverá invariavelmente se voltar para o apoio do usuário e a mediação de seu processo com o objetivo de proporcionar um ambiente promotor de saúde, isto é, seguro e acolhedor, o que pretende ser o nosso diferencial. Devido aos resultados satisfatórios obtidos, há a possibilidade de desenvolvimento de módulos de educação/treinamento voltados para outros profissionais interessados.

Principal

Carlos Alberto Bizarro Rodrigues

carlos.bizarro@fiocruz.br

Tecnologista em Saúde Pública

Coautores

Carlos Alberto Bizarro Rodrigues (psicólogo - coordenador); Eugênio Carlos Lacerda (psicólogo); Vera de Freitas Guimarães (arte terapeuta, consultora técnica)

A prática foi aplicada em

Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

Sudeste

Esta prática está vinculada a

Rua Leopoldo Bulhões, 1480 - Manguinhos, Rio de Janeiro - RJ, Brasil

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

Carlos Alberto Bizarro Rodrigues

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16 out 2024

CADASTRO

16 out 2024

ATUALIZAÇÃO

12 mar 2024

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