Entre becos e vielas, dos centros às favelas: imunização para a população em situação de rua

Localizado na região Norte do Brasil, o município de Macapá, capital do estado do Amapá, concentra cerca de 60% da população do estado. A cidade se caracteriza por seus contrastes e particularidades marcantes, abrangendo vastas áreas de floresta amazônica e um urbanismo em constante expansão. Embora Macapá se destaque por sua beleza natural, enfrenta desafios significativos, especialmente no que diz respeito à imunização de sua população. A dispersão geográfica, especialmente em comunidades remotas e de difícil acesso, torna a distribuição de vacinas um desafio logístico. Além disso, questões socioeconômicas impactam negativamente as taxas de imunização. Entre as diversas vulnerabilidades sociais, a população em situação de rua apresenta particularidades que exigem atenção especial. As dificuldades enfrentadas por aqueles que não têm um lar seguro para se abrigar e cujo acesso a cuidados de saúde é limitado tornam a proteção contra doenças uma necessidade urgente. Em condições precárias, a ideia de imunização muitas vezes parece um luxo distante. No entanto, é exatamente nesse contexto que a necessidade de imunização se torna vital. As equipes multiprofissionais do consultório na rua em Macapá, que atendem diariamente usuários em situação de vulnerabilidade, têm observado diversos relatos sobre a não imunização dessa população. Esses relatos, muitas vezes, refletem a falta de comprovação das vacinas recebidas. Diante dessa realidade, surgiu a necessidade de realizar a atividade de varredura vacinal denominada “Entre becos e vielas”, cujo objetivo é superar as dificuldades de cobertura vacinal, oferecendo não apenas proteção física, mas também um gesto de cuidado e reconhecimento da dignidade inerente a cada indivíduo.

O acesso à imunização é ofertado em sua grande maioria pelas unidades básicas de saúde, que disponibilizam os imunobiológicos conforme preconizado pelo programa nacional de imunizações (PNI). Entretanto, o acesso às unidades, pela população em situação de rua, não ocorre comumente, sendo atravessado por problemáticas que envolvem locomoção, estigma pessoal ou desconforto em ocupar esses espaços por falta de capacitação profissional para o atendimento humanizado. A cobertura vacinal para a população em situação de rua enfrenta desafios que refletem a complexidade das políticas públicas e a necessidade de uma abordagem inclusiva e sensível. Uma das principais dificuldades reside na falta de priorização dessa população nas atividades de imunização. Muitas vezes, as políticas públicas não reconhecem as especificidades e vulnerabilidades dessa comunidade, deixando-as à margem dos programas de vacinação. Estabelecer vínculo efetivo entre essa população e os serviços de saúde é fundamental. Pessoas em situação de rua enfrentam barreiras no acesso aos cuidados de saúde, devido à falta de documentação, estigma social e desconfiança em relação às autoridades. Uma das dificuldades de atuação profissional evidenciada foi o atendimento à pessoa com surdez, com isso a inclusão de intérpretes de língua de sinais ou o incentivo da educação continuada em LIBRAS, são medidas para garantir que as pessoas surdas recebam atendimento durante a imunização. A comunicação eficaz é fundamental para que todas as informações sobre vacinas sejam compreendidas e preocupações e dúvidas sejam adequadamente abordadas. É necessário também desenvolver sistemas de registro que considerem as realidades vivenciadas pela população em situação de rua, incluindo a falta de endereço fixo e documentos de identificação. Ao superar essas barreiras e implementar políticas e práticas inclusivas, podemos avançar na garantia de que a população em situação de rua tenha acesso igualitário às vacinas.

RELATO DA EXPERIÊNCIA E SEUS RESULTADOS:
Em virtude das atividades que seriam implementadas, fora necessário estabelecer possíveis estratégias efetivas e que atraíssem a comunidade acompanhada pelo consultório na rua. Com isso foi desenvolvido um fluxo de atividades complementares que podem ser resumidas em educação em saúde, realização de mutirões para vacinação, avaliação de possíveis efeitos adversos e os registros fidedignos nos sistemas de informações que validam as imunizações no território legal. Com uma semana de antecedência, realizamos dentro de nossas rotas diárias a educação em saúde com o intuito de explicar a importância da vacinação e informando como se daria essa atividade, descrevendo os dias e as vacinas que seriam disponibilizadas. Além disso, entramos em contato com os Centros de atenção psicossocial (CAPS) e Centros POP que também oferecem serviços aos usuários para que nos ajudassem repassando essas informações. Conseguimos ofertar as vacinas de Influenza, Anti-tetânica e Bivalente (Covid). Com a preocupação de possíveis efeitos adversos também retornamos nos dias consecutivos para acompanhar os que teriam sido vacinados. Para registro legal e comprovação das atividades realizadas na varredura vacinal, os dados daqueles que eram atendidos pela equipe de consultório na rua foram vinculados aos sistemas de informação: e-Sus Vacinação e Si-Pni. Esses sistemas usam de dados dos documentos de identificação, informações estas que devido a dificuldade de armazenamento de documentação se perdia pelos próprios indivíduos. Nesse aspecto se tornou de extrema importância a participação multiprofissional, e através da assistência social, foi possível realizar a busca ativa necessária para comprovação eficaz das vacinas. Considerando a dificuldade de encontrar os usuários que sempre se mantêm em movimentação pela cidade em busca de abrigo, alimentação e etc, conseguimos realizar a vacinação de (90%) dos atendidos pelas equipes de consultório na rua. E como reflexo do planejamento eficaz, nossos resultados qualitativos foram extremamente positivos, pois tivemos total aderência e aceitação das vacinas.

Apesar dos desafios, o município de Macapá tem se esforçado para promover campanhas de vacinação eficazes. Assim notamos que se tornou crucial promover campanhas de conscientização sobre a importância da imunização, adaptadas à linguagem e às realidades vivenciadas pela população em situação de rua. Isso pode incluir a utilização de materiais informativos acessíveis e a realização de palestras educativas em espaços de convivência. Outra medida eficaz é a integração da vacinação dentro de programas de saúde mais amplos voltados para essa população, oferecendo serviços de saúde abrangentes que vão além da imunização, como cuidados médicos básicos, acesso a medicamentos essenciais e apoio psicossocial por todos os pontos da rede de saúde. Cada dose de vacina administrada a um indivíduo em situação de rua é mais do que uma simples injeção; é um ato de solidariedade e esperança. É a expressão de nossa crença fundamental de que todos merecem uma chance justa de viver uma vida saudável e digna. Ao unir nossos esforços, como comunidade e sociedade, podemos garantir que ninguém seja abandonado no caminho rumo à saúde e ao bem-estar. Juntos, podemos transformar a visão de um mundo mais justo e compassivo em uma realidade tangível, onde cada vida importa e cada pessoa é valorizada.

Principal

Emerson Brazão Brito

emersonbrzbrito@gmail.com

Coautores

Ane Caroline Caldas da Silva, Kaila Corrêa Santos, Jaqueline Rabelo Nunes, Ramon Damião de Sena Santos, Diana Dárlym Mascarenhas Martins, Fabricia Alves Lousada, Érica Aranha de Souza Aymoré, Larissa Penha Moraes, Luana Izabel da Silva Nunes

A prática foi aplicada em

Macapá

Amapá

Norte

Esta prática está vinculada a

Secretaria Municipal de Saúde de Macapa - Rua Eliezer Levy - Central, Macapá - AP, Brasil

Uma organização do tipo

Instituição Pública

Foi cadastrada por

Monique Melo Gomes

Conta vinculada

20 set 2024

CADASTRO

25 set 2024

ATUALIZAÇÃO

Condição da prática

Concluída

Situação da Prática

Arquivos

TAGS

Práticas Relacionadas