Fiocruz visa ampliar ações do projeto ‘Habitação Saudável’

O foco é a tuberculose, esperando tornar-se modelo a ser reproduzido no país todo

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Foto de Raquel Portugal / Acervo: Fiocruz Imagens

Soluções simples e acessíveis para casas em comunidades, como a abertura de uma janela, que gerem qualidade de vida, promoção de saúde e prevenção de doenças. Esse é o mote do projeto Habitação Saudável, desenvolvido no Complexo de Manguinhos, na zona Norte do Rio de Janeiro, com foco inicial no controle da tuberculose, por pesquisadores da Fiocruz. Iniciado em 2020, o projeto teve que se adaptar ao contexto da pandemia, voltando-se para ações de capacitação e educativas. Agora, o objetivo é ampliar as ações para outras localidades do estado, podendo se tornar um modelo a ser reproduzido no país todo.

Ao longo do trabalho, 130 agentes comunitários de saúde da região foram capacitados com a metodologia “habitações saudáveis” e uma análise de vulnerabilidade de risco de um imóvel foi elaborada. Além disso, foram produzidos materiais educativos com indicações a baixo custo de melhorias em residências, como a abertura de janelas, a colocação de tijolos vazados e instruções para controlar infiltrações – proporcionando maior circulação do ar, o que ajuda no controle de doenças respiratórias agudas e crônicas como a tuberculose e a Covid-19.

Coordenadora de Atenção à Saúde da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), Patrícia Canto explica que o projeto surgiu de uma demanda do território para controle e diminuição dos casos de tuberculose, em 2019. A partir disso, criou-se um grupo de trabalho em Manguinhos, envolvendo pesquisadores e representantes das secretarias de saúde do Rio. “A gente via que, dentro da comunidade, a incidência da tuberculose não era igual. Alguns locais com habitações precárias tinham maior frequência da doença”, relembra ela. “As condições de onde você mora, a quantidade de pessoas que vivem na casa, baixa ventilação, baixa luminosidade, isso tudo influencia na transmissão da doença”.

A partir dessa demanda e das análises do GT de tuberculose, o projeto da professora da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz) Simone Cynamon chamado “habitações saudáveis” se mostrou ideal. A ideia, na época, era aplicar o projeto em 40 residências selecionadas em Manguinhos e oferecer uma planta arquitetônica com melhorias a baixo custo, além de debater o adoecimento a partir das condições de moradia.

Resultados

Com a chegada da pandemia, o projeto não pode ser implementado da forma original, voltando-se para: a capacitação de 130 agentes comunitários de saúde da clínica da Família Victor Valla e do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Farias; a produção de uma cartilha chamada Habitação Saudável para a saúde do morador, de uma animação com soluções simples para habitações saudáveis, além de um documentário sobre Metodologia de Habitações Saudáveis.

Foi realizada ainda uma visita a uma residência, onde os pesquisadores identificaram problemas estruturais e elaboraram um projeto de adequação para melhoria das condições da habitação. “A minha casa é como muitas das de Manguinhos. Muitas vezes o morador tem vontade de fazer o melhor para a sua residência, mas não tem condições financeiras. Precisamos de políticas públicas que nos ajudem a sanar esses problemas. Queria que o mesmo que aconteceu na minha casa, acontecesse com todas as residências do estado”, disse Alex da Costa Pessoa, após receber a planta dos pesquisadores responsáveis pelo projeto.

O vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da saúde (Vpaaps/Fiocruz), Hermano de Castro, comentou sobre as altas taxas de tuberculose no Rio de Janeiro e, especialmente, entre as populações vulnerabilizadas, o que, segundo ele, indica a importância de ações conjuntas com o poder público: “A questão da habitação saudável é fundamental. Não basta ter uma boa planta, é preciso ter investimento para que a gente possa atuar efetivamente nessas habitações, que as ações venham acompanhadas de saneamento nos territórios, por exemplo. Temos muito chão a percorrer, é uma política transversal e necessária para população”.

O projeto recebeu financiamento via emenda parlamentar (202041600014) do deputado federal Marcelo Freixo (PT), que agradeceu às pesquisadoras pelo trabalho realizado. “É muito bacana ver esse processo de transformação, fazendo com que a casa possa ser o lugar da saúde, da dignidade, da descoberta, da vontade de viver”.

Dicas para deixar a casa saudável

Nos materiais educativos, há informações sobre como lidar com as condições da casa que podem afetar a saúde do morador: o mofo e a umidade, iluminação e ventilação insuficientes são fatores de risco para transmissão e agravamento de doenças respiratórias. Além disso, a cartilha explica como condições como lixo acumulado e superlotação de moradores, classificadas como índices de vulnerabilidade e diminuição de qualidade de vida.

Ambientes fechados, com pouca ventilação e iluminação e muitas pessoas vivendo juntas, aumentam as chances de transmissão de infecções respiratórias, como a tuberculose e a Covid-19. Por isso, entre algumas das soluções apresentadas nas cartilhas e vídeos, está a colocação de cobogós, uma espécie de tijolo vazado que facilita a circulação de ar na casa – além de poder se tornar um item de decoração simples e acessível.

“Temos um produto excelente com esse trabalho, além de um compromisso para aprofundá-lo, de que haja desdobramentos para outros territórios e na Ensp/Fiocruz, como o projeto tem associação com várias ações já em andamento na Fiocruz”, afirmou o diretor da Ensp/Fiocruz, Marco Menezes. “É um exemplo do bom uso do dinheiro público, de um novo [Sistema Único de Saúde] SUS integrando saúde, ambiente e ações concretas. E mudar a realidade do território”.

Por Ana Paula Blower, da Agência Fiocruz de Notícias (AFN), publicado originalmente em AFN Notícias em 14/8/2023.

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