O Projeto Melhores Multiplicadores foi desenvolvido pela Casa do Abraço – SAE/CTA, em parceria com a Atenção Básica e a Assistência Social de Jacareí (SP), entre fevereiro de 2023 e dezembro de 2024. Realizado anualmente, o projeto se compõe de um ciclo formativo de um ano, com encontros quinzenais que integram a rede de saúde e os espaços de convivência da população idosa. Seu objetivo é promover a discussão sobre sexualidade e prevenção das ISTs, fortalecendo a autonomia e o cuidado integral. As ações, realizadas no Centro de Convivência Casa Viva Vida, envolvem rodas de conversa, oficinas e capacitações de profissionais, com ênfase na educação permanente e na escuta ativa. A iniciativa representa uma estratégia inovadora de prevenção combinada e de valorização da vida sexual na velhice, combatendo o estigma e qualificando o atendimento à pessoa idosa no SUS.
A sexualidade da população idosa segue invisibilizada nos serviços de saúde, marcada por tabus, preconceitos e ausência de ações específicas de promoção e prevenção. No Brasil e também no município de Jacareí, observa-se um aumento significativo de novos casos de ISTs, especialmente de sífilis e HIV/aids entre pessoas com 60 anos ou mais, o que evidencia a vulnerabilidade desse público e a carência de políticas e práticas voltadas à sua saúde sexual. Muitos profissionais ainda encontram dificuldades em abordar o tema por falta de preparo, reproduzindo estigmas e negligenciando o direito à informação e ao cuidado integral. A promoção da saúde sexual na velhice esbarra em barreiras culturais e institucionais que silenciam o desejo, o prazer e o autocuidado. Diante desse cenário, o Projeto Melhores Multiplicadores surge como uma estratégia anual e inovadora de formação e educação em saúde, voltada ao enfrentamento do estigma, à qualificação das equipes e à melhoria dos indicadores de prevenção e diagnóstico das ISTs entre a população idosa.
A experiência resultou em maior acesso da população idosa às ações de prevenção e cuidado integral em saúde. Observou-se aumento expressivo na procura por testagens rápidas de HIV, sífilis e hepatites, além da ampliação da oferta e do uso de insumos preventivos — como preservativos masculinos e femininos e gel lubrificante — disponibilizados na Casa do Abraço, no Centro de Convivência Casa Viva Vida e em outros espaços frequentados por pessoas idosas. O projeto também estimulou o autocuidado e a realização de outros exames preventivos, como o Papanicolau e avaliações voltadas à saúde do homem, ampliando a visão de cuidado integral. A participação ativa dos idosos e a formação de multiplicadores fortaleceram o vínculo com os serviços e sensibilizaram a rede de Atenção Básica, que passou a acolher de forma mais qualificada as demandas relacionadas à sexualidade e à prevenção de ISTs. Com isso, o projeto contribuiu para melhorar os indicadores de prevenção e consolidar uma cultura de cuidado mais inclusiva e livre de estigma.
Para implementar uma prática similar, recomenda-se iniciar com o mapeamento dos indicadores de saúde e dados epidemiológicos do município, identificando o número de pessoas idosas com diagnóstico de ISTs e analisando o crescimento populacional a partir das informações do IBGE. Esse diagnóstico orienta a definição de prioridades e estratégias. É fundamental dialogar com a gestão municipal e articular ações intersetoriais entre saúde, assistência social e espaços de convivência, como instituições de longa permanência, centros comunitários e unidades básicas de saúde. A formação dos profissionais é um eixo central: preparar a rede de cuidado para acolher, escutar e dialogar sobre sexualidade, corpo, prazer e envelhecimento de forma sensível e sem estigmas. O projeto deve se basear em materiais e diretrizes que já existem nas esferas nacional, estadual e municipal — como a Política Nacional da Pessoa Idosa, as diretrizes da Atenção Básica e os planos e políticas de ISTs, HIV e Aids — garantindo embasamento técnico e sustentação institucional. Reconhecer que pessoas idosas têm vida sexual ativa e autonomia sobre o próprio corpo é essencial para promover o cuidado integral e reduzir os índices de ISTs, fortalecendo a rede de atenção e consolidando práticas inovadoras, inclusivas e duradouras no SUS.
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