A experiência foi realizada por conveniência, sendo composta de trinta e oito participantes, incluindo usuários, independente do sexo, raça e idade, que estavam presentes na sala de espera, aguardando atendimento nas especialidades de neurologia e de psiquiatria, no ambulatório de Saúde Mental Oswaldo Camargo.As experiências realizadas consistiram na realização de palestras sobre temas ligados à área de Saúde Mental, seguidas de debates, vivências de relaxamento e comentários, através de relatos das emoções relacionadas ao que vivenciaram após as ações desenvolvidas. As experiências ocorreram entre o período de fevereiro a abril de 2011, sendo realizadas, semanalmente, às quartas-feiras, no início do turno vespertino, com duração total de uma hora, sendo distribuída da seguinte forma: a) quinze minutos para a palestra
Os problemas que envolvem o processo de trabalho em saúde são graves, agudos e, por vezes crônicos, repercutindo nas práticas assistenciais contemporâneas, as quais apresentam múltiplas carências sob diversos aspectos. Constitui-se um grande desafio o fazer saúde de modo pulsante, vivo, participativo, de forma que haja interação e possa produzir efeitos de sentido tanto para os trabalhadores quanto para os usuários assistidos. Nessa direção, ao analisar o processo de trabalho em saúde, Gonçalves (1994) o considera como uma forma humana de socialidade e gênese histórica, demarcando movimento e vitalidade no mundo do trabalho.Observa-se um grande hiato entre os discursos e as práticas no que tange à assistência pública na área de saúde mental, identificando aspectos relacionados à desumanização, exclusão social e a não reabilitação psicossocial. As práticas não têm contemplado cuidados básicos relativos à reorganização do processo de trabalho envolvendo acolhimento, resolutividade, projeto de planificação e avaliação junto aos portadores de transtornos psíquicos (NUNES,1993
O que se observou e se observa neste ambulatório já fora apontado por Cammarota (2000) no que diz respeito à configuração de equipes pouco integradas, persistindo a dominância profissional médica, a comunicação fragmentada, o trabalho individualizado, inviabilizando a construção de estratégias e novas medidas terapêuticas.Diante dos resultados dessa experiência, é possível levantar algumas questões. Em pouco tempo é possível realizar um trabalho com um nível de aceitação tão alto? Quais são os fatores que podem ter influenciado para o baixo nível de rejeição à experiência proposta? É preciso levar em conta a carência de bons serviços de assistência no Sistema Único de Saúde brasileiro, que atenda aos usuários de forma humanizada, que priorize suas singularidades, suas dificuldades, e que abra um espaço de escuta para suas insatisfações diante da assistência prestada. É possível que o alto percentual de usuários que relataram a experiência como positiva, seja um efeito dessa carência de vivências que priorizem o bem-estar físico e/ou psíquico. Pode-se pensar também que o fato da psicóloga que propôs a vivência ter sido a mesma que perguntou aos usuários quais eram as emoções relatadas após a vivência, pode ter influenciado nas respostas positivas, como forma de gratidão. Estas podem ter sido limitações do presente relato, que poderiam ser superadas entregando aos usuários questionários semi-estruturados, nos quais eles não precisariam se identificar.Essas atividades deveriam ser cotidianas nos serviços de saúde e não uma eventualidade. Serviços pautados na humanização, no acolhimento, na escuta, na boa assistência, na interdisciplinaridade deveriam fazer parte da rotina do SUS. Como isso ainda não acontece na maioria dos serviços, quando é realizada uma vivência baseada nesses princípios, ela é encarada como uma espécie de doação dos profissionais. Consequentemente há, muitas vezes, uma sensação de dívida por parte dos usuários. Assim, é importante deixar claro para eles que as atividades ofertadas são direitos seus, direitos que eles têm como cidadãos e que essas atividades são trabalhos em prol da defesa da humanização do atendimento no SUS. Esta experiência, contudo, não pode ser generalizada para a população de usuários do próprio ambulatório em questão nem para outros ambulatórios de Saúde Mental, sendo importante para futuras experiências o desenvolvimento de delineamentos mais amplos que possibilitem expansão de amostras e que incluam instrumentos validados e um maior número de dados sociodemográficos.As conclusões e recomendações acerca desta experiência são a de que é possível obter sucesso e respostas de adesão em programas alternativos assistenciais, ampliando, portanto, as possibilidades de novas intervenções terapêuticas. O que deve ser problematizado, no entanto, relaciona-se ao encastelamento das classes trabalhadoras, ao preconceito tecnológico e à dificuldade em romper com paradigmas tradicionais de assistência no âmbito da saúde mental. Tal iniciativa necessita, também, ser implementada a nível macro, coordenada por gestores presentes e implicados com a proposta da atenção especializada em saúde mental que propõe estabelecer critérios de acesso, identificados de forma pública, incluídos na rede assistencial, além de otimizar o atendimento ao usuário.
Salvador